São Paulo, sexta-feira, 25 de novembro de 1994
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Rotina não muda na Mangueira

RONALDO SOARES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Menos de 18 horas depois da última incursão do Exército ao morro da Mangueira (zona norte do Rio), o comércio e o consumo de drogas estavam de volta à favela.
Ontem, às 11h, rapazes fumavam maconha ao ar livre na calçada do Buraco Quente, via de acesso ao morro e um dos principais alvos das operações do Exército.
As ações do tráfico ficavam por conta de "olheiros" posicionados na entrada da favela, na rua Visconde de Niterói. Eles estavam de prontidão, aguardando uma possível chegada dos soldados.
Uma moradora da Mangueira, que se identificou como "Betinha", reclamou das operações militares no morro. "Eles já entraram mais de 30 vezes na casa da minha filha, que está grávida", disse.
"Betinha" afirmou que os soldados escolhem sempre as mesmas casas. "Eles vasculham da cômoda às panelas. O que será que alguém esconderia numa panela?"
Segundo ela, os soldados tiraram a tranquilidade dos moradores e não mudaram a ação do tráfico. Ela disse que nem todos estão satisfeitos com as ações. "Quem está do lado dos militares é porque nunca teve a casa invadida."
Ontem de manhã, três homens foram presos e 2.300 papelotes de cocaína apreendidos na ocupação pela PM do morro da Mineira (Catumbi, zona norte do Rio).
A invasão da Mineira começou às 8h. Cerca de 50 soldados do 1º BPM, sediado no centro, procuravam armas e drogas a partir de denúncias passadas por informantes.
A polícia informou ter encontrado ainda uma carta assinada por 17 presidiários que pedem aos traficantes da Mineira ajuda em dinheiro para festas de fim-de-ano e torneios de futebol a serem disputados nas penitenciárias do Estado.
Datada do último dia 12 e destinada a Gelsinho e a um homem apelidado de Pororó, a carta leva no cabeçalho o nome da facção CV (Comando Vermelho) e seu lema: "Paz, Justiça e Liberdade".
O suposto traficante Macumba, apontado pela PM como chefe da quadrilha que vende cocaína e maconha no morro, não foi localizado. A favela do Zinco, vizinha à da Mangueira, também foi vasculhada.

Colaborou a Sucursal do Rio

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