São Paulo, sábado, 26 de novembro de 1994
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Freira diz que até bandidos respeitam local

VICTOR AGOSTINHO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Aproximadamente 200 soldados do Exército invadiram às 5h de ontem a igreja São Sebastião, na Chácara do Céu, ponto mais alto da favela do Borel. Moradores detidos durante o dia estavam sendo revistados dentro da igreja, segundo o padre Olinto Pegoraro, 60.
O padre disse que os soldados iriam passar a madrugada de hoje dormindo na igreja. "É um absurdo. Eles falaram que só vão sair amanhã (hoje) às 6h", disse.
"Todo mundo respeita a igreja, os moradores, o tráfico, a polícia. Só a lei vem aqui e invade uma propriedade particular, um espaço sagrado. A gente sabe que a igreja fica num lugar estratégico, mas nem por isso os bandidos quando brigam vêm aqui", afirmou, muito nervosa, a irmã Inês Caixeta e Silva, 33, da Pastoral do Borel.
Segundo o padre Pegoraro, "foi constrangedor ver os detidos de cócoras no chão da igreja, sob a mira de fuzis, com as mãos na cabeça sendo interrogados". O padre não soube informar que tipo de perguntas os militares faziam.
O padre conta ainda que conversou com os dois miliatres que comandavam a operação e pediu a eles que se retirassem da igreja. "Só depois de muita insistência é que eles pararam com interrogatório dentro da igreja", disse.
A Pastoral do Borel tentou entrar em contato com o cardeal do Rio, D. Eugênio Sales, "mas ele não está no Brasil –foi para Roma", segundo a irmã Inês.
Os dois religiosos explicam que não são contra a ação do Exército: "Não somos contra a ocupação, mas não admitimos a invasão da igreja", disse Pegoraro.
Na opinião dos religiosos, vai ser "impossível estabelecer no Borel uma paz de cemitério. A resolução do problema no morro é de longo prazo", acreditam.

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