São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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'Quando morrer, quero ir para o Chanterelle'

J.R.DURAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

O meu apartamento em N.Y. fica na Mercer St. esquina com a 4th St., perto da New York University e da Washington Square, um lugar alegre e colorido.
Isto quer dizer que grande parte da minha vida lá, transcorre no "downtown" e no Soho, mesmo porque, para fins profissionais, a situação é bem prática. O Studio One, na 23 East, 4th St., é um dos melhores estúdios fotográficos para alugar em N.Y., onde você pode cruzar com Gilles Bensimon, Michel Comte, etc. Na 65 Bleeker St., existe o US Color, o melhor laboratório fotográfico dos Estados Unidos. Se você disser que é meu amigo, pode ganhar desconto e atendimento preferencial. Então, estas dicas são todas de lugares que dá para ir andando (exceto uma ou duas), mesmo no inverno, o que não é pouca coisa para quem conhece o inverno de New York.
O café da manhã é no Dean & De Luca. Tem três deles na área e o meu favorito é o da Prince Street. É o mais calmo, tem mais espaço e dá para ler o New York Times sem ter que ouvir a conversa de quem estiver na mesa ao lado. Além do mais, tem uma clarabóia que proporciona uma luz agradável em qualquer época do ano.
Livros e revistas podem ser na Rizzolli, da West Broadway, ou na Tower Books, da Lafayette St. Na verdade, a Rizzolli é mais agradável, os vendedores são mais educados e ainda se pode tomar um expresso em um barzinho que tem no andar superior. A Tower Books tem mais variedade de livros, mas os vendedores conseguem sempre mostrar o mesmo olhar de peixe morto para qualquer tipo de pergunta.
Na outra Tower, a Tower Records, esquina da Broadway e Mercer St., o tratamento puxa mais para o Bronx Boys'on the Hood, mas compensa pela quantidade e a qualidade dos CDs.
Para comprar roupas para dar de presente para alguém como Érika Palomino, tem a Patricia Fields, na 8th street, entre 5 e 6 Ave. São roupas exclusivas, divertidíssimas e que um mês depois estarão em matérias de moda da Details. Se por acaso as suas amizades são mais comportadas, é só ir até o Gap na Broadway e 8th street e comprar todos os básicos que você for capaz. A minha querida Alexandra Brochen prefere fazer compras na Tehen, esquina da Prince e Greene St. Eu prefiro comprar roupas na Agnes B (o estilo Jean-Paul Belmondo blasé) na Prince St., ou na APC (uma coisa assim meio intelectual chic), 131 Mercer St.
Na mesma Mercer St., a duas portas da APC, existe uma livraria que tem todos os livros de fotografia que qualquer fotógrafo procura (novos e usados) e que esqueci o nome, mas que é a mais completa e suja que já visitei.
Para compras paralelas e diversas, tem a Kate's Papeterie, na Broadway e Prince St., que vende aqueles caderninhos com páginas brancas da Cranc's, onde se pode escrever intermináveis diários (imaginários ou não).
Como curiosidade, tem a Evolution, 120 Spring St., que vende tudo o que é relacionado com a evolução da espécie.
Você pode comprar uma belíssima caixa com borboletas da Papua-Nova Guiné, um crânio de macaco do deserto do Kalahari ou um dente de crocodilo.
Para aqueles objetos que a gente compra compulsivamente e depois quase se arrepende, tem a AD*HOC, na esquina da West Broadway e Spring. São milhares de sabonetes, perfumes, canetas, livros, vasos, roupa de cama e coisas assim que fazem enlouquecer a minha amiga Mônica Figueiredo toda vez que entra na loja.
O que tem cada vez mais na região são bares. Além do tradicional Fanelli's, que aparece no fim daquele filme "State of Grace", de Phil Joanou com Sean Penn e Gary Oldman, tem os novos: o Temple Bar, na 332 Lafayette St., com petiscos geniais e clima de chega mais. O Merc Bar, na Mercer St., entre Houston e Prince St., mais descolado, e com "gimlets" perfeitos ("gimlets", você sabe, a bebida preferida de Philip Marlove). E, alguns meses atrás, foi inaugurado o Match, um daqueles lugares que as pessoas fazem fila e choram na porta para poder entrar, quase em frente ao Merc Bar.
Os restaurantes são numerosos e dependem da companhia. Toda vez que saio com minha amiga Leda Gorgone, a gente acaba indo ao Jerry's, um "american food" a preços razoáveis que fica na Prince Street, perto do correio, onde na hora do almoço se encontram quase todos os alternativos do bairro.
Tem o Jour et Nuit na esquina da West Broadway e Broome St., restaurante francês bom e barulhento sempre cheio de modelos, propriedade de Frederic que é o namorado da Frederique, modelo famosa de tanto aparecer nos anúncios de Victoria Secret.
Outro restaurante, também francês, é o favorito de Monique Pillard, presidente da agência de modelos Elite. É o Chez Jacqueline, que fica na MacDougal na esquina da Houston.
Para impressionar, sem muito dinheiro, é o Kelly & Ping Wooster entre Prince e Houston, um restaurante tipo chinês de San Francisco dos anos 20, que parece saído de um livro de Tin-Tin. Barulhento e divertido e com massas chinesas ótimas.
Já se você dispõe de um bom capital e quer impressionar, tem o Chanterelle, bem mais "downtown", mas que é um Nirvana gastronômico aliado a um clima de paz e tranquilidade. Quando eu morrer, se não for para o céu, quero ir para o Chanterelle.
Em ocasiões de romance, onde o tiro e queda é fundamental, o lugar é o Alison ou Dominick, na Dominick St. e Varick. Íntimo, não é preciso falar, só sussurrar, e com comida estilo americano de primeira, o que não é fácil de encontrar. Não é à toa que vem sendo considerado pelos críticos, de alguns anos para cá, como um dos três melhores de N.Y.
Para ir ao cinema, é só chegar na esquina da Houston com Mercer e entrar no Angelika Film Festival. Um cinema com cinco salas, onde passa o melhor do melhor. Foi lá que assisti à estréia de "Pulp Fiction", de São Quentin Tarantino. E para uma coisa mais intensa e mais "cult" (tipo se você encontrou com Arto ou Duncan Lindsay) temos Film Forum, na Houston com a 8th Ave, onde você pode assistir a coisas como "Architecture of the Dome", um documentário sobre a ascensão e queda do nazismo visto através das artes alemãs daquele época, ou ainda, "Visons of Light" o delicioso filme que não me lembro quem dirigiu, mas que é a respeito dos fotógrafos de cinema.
Na esquina da Lafayette e Great Jones St., tem o Times Cafe, famoso pelos "eggs benedict" e por ter saído em um anúncio da água mineral Perrier, mas o mais interessante está no subsolo. Se trata de um bar com música ao vivo que se chama Fez. É no estilo marroquino e tem jazz do melhor. Claro que se o que você quer é um jazz mais tradicional (Thelonius Monk, por exemplo), vá ao Blue Note, na 8th St., entre 6th Avenue e Macdougal, reduto de turistas e jazzmaníacos do mundo inteiro.
Surpresas musicais acontecem no Bottom Line, uma casa de espetáculos na esquina oposta à minha. Um lugar onde você pode convidar Matinas Suzuki para assistir Jimmy Scott em uma noite e na outra assistir o pavoroso Buster Poindexter ou os Ramones.

J. R. DURAN, 42, é fotógrafo e só gosta de Nova York quando está fora dela.

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