São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Um passo à frente Antonio Ermírio de Moraes Sempre tive um certo fascínio pela geografia dos recursos naturais. Ultimamente tenho lido com atenção alguns trabalhos recentes sobre o uso dos rios, como é o caso da monografia preparada pelo dr. Joaquim Riva, do Departamento de Hidrovias da Cesp. Em várias partes do mundo, os rios interligam nações e seus interiores. A Europa, através do rio Danúbio, consegue ligar o mar do Norte ao mar Negro. Na Rússia, o rio Volga e seus vários canais, conectam o mar Branco ao mar Negro. Nos Estados Unidos, o sistema Mississipi-Missouri compreende mais de 14 mil quilômetros de hidrovias. Nos países desenvolvidos a navegação fluvial tem um importante papel no transporte barato de cargas pesadas e de produtos de baixo custo como é o caso do carvão, petróleo, produtos químicos, materiais de construção, grãos e outros. Além disso, o bom uso dos rios promove o desenvolvimento regional, cria empregos, estimula a exportação, viabiliza a irrigação, gera energia, reduz a poluição e oferece ambientes agradáveis para o turismo e lazer. Nos países citados, os rios transportam mais de 15% da produção. Nos Estados Unidos, mais de 20%. No Brasil, os rios transportam apenas 1% da nossa produção agrícola. Coisa inexpressiva para um país que poderia usufruir de uma rede hidroviária de 40 mil quilômetros –30 dos quais navegáveis. Essa rede é maior do que a européia (26 mil quilômetros) e igual à americana. Nos Estados Unidos, só o sistema Mississipi-Missouri transporta quase 600 milhões de toneladas de carga por ano –interligando-se com várias ferrovias. Para acentuar a magnitude desse número, basta compará-lo com os 20 milhões de toneladas que são transportadas anualmente pelo sistema Fepasa, em São Paulo, ou seja, apenas 3% do que se transporta pelo Mississipi-Missouri. O Brasil possui rios navegáveis exatamente nas áreas de grande produção agrícola –presentes e futuras. Isso é uma verdadeira bênção de Deus como é o caso do Amazonas, Araguaia, São Francisco, Madeira, Paraguai, Uruguai, Paraná, Tietê e outros. Com algumas ligações ferroviárias estratégicas, os nossos rios poderão colocar os produtos agrícolas e minerais nos principais portos do país a preços competitivos. O projeto Tietê-Paraná é uma semente importante que já foi plantada e está se revelando viável na explorável do transporte hidroviário, apresentando ainda todos os benefícios colaterais acima indicados. São quase mil quilômetros de vias navegáveis que, com a ajuda de seis eclusas, facilitam a navegação, desenvolvem regiões e criam ambientes aprazíveis para as novas gerações. No artigo de domingo passado, enfatizei o enorme potencial agrícola deste imenso país. A construção de hidrovias, conjugadas a ferrovias e desburocratização dos portos, transformará em realidade o posicionamento do Brasil como um dos maiores celeiros do mundo. Neste momento em que se trocam os comandos nos governos federal e estadual parece-me apropriado alertar os novos dirigentes para a importância de se continuar e ampliar esse sistema de transporte em um país que tem tudo para interligar as suas áreas produtivas de modo barato e eficiente. Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna. Texto Anterior: Louvação ao Rio Próximo Texto: SUBINDO O MORRO; AINDA É POUCO; PAPEL TROCADO Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |