São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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"Incidente em Antares" faz parábola do autoritarismo

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

A literatura nacional volta a brilhar na TV com a estréia, na Globo, da minissérie "Incidente em Antares", baseada na obra do romancista gaúcho Erico Verissimo (1905-1975).
Reunindo no elenco nomes como Fernanda Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri, Marília Pera, Paulo Betti e Regina Duarte, a minissérie –que vai ao ar de terça a sexta, às 22h30– é a transposição para a telinha de uma das mais saborosas tramas do consagrado autor.
"Eu li o livro em 71 e gostei muito. É uma história inesquecível", diz o diretor-geral Paulo José, feliz em poder realizar um projeto sonhado desde 81.
Ele –que também assinou a direção da elogiada minissérie "Agosto", adaptada da obra de Rubem Fonseca e exibida em 93– é um entusiasta da proposta do diretor-artístico das minisséries globais, Carlos Manga, de recorrer ao melhor da literatura nacional.
"O que diferencia esse tipo de trabalho é a utilização da literatura brasileira, que tem personagens indestrutíveis e significativos de nossa cultura", afirma.
Com a ajuda do roteiro de Charles Peixoto e Nelson Nadotti, e da fotografia de Elton Menezes, ele acredita ter feito "uma obra fiel" ao espírito do livro e diz que nem precisou se basear em um roteiro "carregado de subtextos". Para aprofundar características dos personagens, os atores viviam "com o livro".
Em um clima que se convencionou chamar de realismo fantástico, a minissérie é uma parábola dos podres poderes e do autoritarismo reinantes no país, na época do regime militar.
Em meio a uma greve geral na cidade fictícia de Antares, na fronteira sul do Brasil –onde até coveiros cruzam os braços– sete mortos "revivem" para exigir enterros dignos.
A reivindicação dos insepultos servirá para que seja feita, ao longo da trama de 12 capítulos, uma série de denúncias sobre a corrupção e hipocrisias da estrutura do poder local.
"Várias denúncias vão aparecendo. Os mortos detonam todo mundo, é um pandemônio geral. Conflitos sociais, familiares, tudo estoura", conta o diretor.
As referências indiretas à instauração do regime militar, em março de 1964, são evidentes. O "incidente", por exemplo, se passa em 13 de dezembro de 1963.
"Em 1963 estávamos às vésperas do golpe militar", diz Paulo José. Em 13 de dezembro de 1968 foi instaurado o AI-5 –o ato institucional que concedia poderes ilimitados ao presidente da República, como cassar políticos e fechar o Congresso.
Ao custo de US$ 1,5 milhão e reunindo um elenco de 108 atores, a minissérie "Incidente em Antares" foi filmada em dois meses. As externas foram gravadas em Pelotas (RS).
Moradores locais foram utilizados como figurantes. A cidade de Antares foi montada no Projac, a cidade cenográfica da Rede Globo em Jacarepaguá (zona oeste do Rio).

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