São Paulo, segunda-feira, 28 de novembro de 1994
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Freira denuncia tortura de 15 em igreja no Borel

RONALDO SOARES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A freira Maria do Rozário Porto Santos disse que presenciou a tortura de cerca de 15 pessoas por oficiais das polícias Civil e Militar e da Polícia do Exército.
O local usado para as torturas, segundo a religiosa, foi a igreja São Sebastião, na favela Chácara do Céu, que fica no topo do morro do Borel. A igreja foi ocupada sexta-feira pelo Exército.
Uma das pessoas que dizem ter sido torturadas, o balconista de farmácia desempregado Marinésio Ezequiel Martins, 24, disse que foi retirado de sua casa às 14h e liberado quatro horas mais tarde, depois de ser interrogado e submetido a choque elétrico.
O porta-voz da Operação Rio, coronel Ivan Cardozo, nega que tenha havido tortura contra pessoas detidas, mas afirma que todas as denúncias serão investigadas.
As moradoras do Borel Edna dos Santos de Oliveira, 37, Márcia dos Santos, 26, e Marlene dos Santos estão à procura do irmão, o motorista desempregado Daniel dos Santos, 36.
Segundo o relato das três, na sexta-feira ele foi retirado de sua casa por policiais civis que participavam da ocupação militar no Borel.
Um curativo de Daniel, que se recuperava de uma operação de úlcera, teria despertado a desconfiança dos policiais, que suspeitaram que o ferimento tivesse sido causado por tiros.
"Eles disseram que meu irmão seria levado para averiguações na 19ª DP", afirmou Edna, que estava com Daniel no momento da prisão.
"Vi quando o Daniel foi colocado num jipe do Exército e levado na companhia de soldados", disse Márcia, que segurava uma foto do irmão.
As irmãs de Daniel percorreram a Polinter, a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), o 6º BPM e a 19ª DP (Tijuca), mas não obtiveram nenhuma informação sobre ele.
O coronel Ivan Cardozo disse que "desconhecia" o caso de Daniel. "Todas as queixas dos moradores onde o Exército está agindo devem ser encaminhadas aos postos de triagem que foram montados nos morros, ou no cartório da Polícia do Exército", disse o coronel.

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