São Paulo, segunda-feira, 28 de novembro de 1994
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Previsão em janeiro era de prejuízo

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Em janeiro deste ano, a cúpula do grupo Sharp debruçou-se sobre os números da empresa e constatou que caso a reestruturação não decolasse em semanas, a companhia estava fadada a um prejuízo de US$ 20 milhões em 1994 –que seriam somados aos US$ 51,9 milhões perdidos no ano anterior.
"Na ocasião, falei ao Matias (Machline) que aquilo era inadmissível. Que muitos diretores preferiam ir embora e parar de brincar de empresário a permanecer naquela situação", diz Jorge do Carmo.
Semanas depois, o executivo era indicado para a superintendência do grupo, onde estabeleceu prazos, metas e responsáveis para cumprí-las. Tudo sob os auspícios dos japoneses.
"Em maio, prometemos aos japoneses economizar US$ 26 milhões. Cumprimos. Em outubro, fui ao Japão mostrar novos resultados. Agora, os temos de volta dentro da empresa para ultrapassar uma nova fase", diz o diretor-superintendete.
Para cada uma das fases de reestruturação da empresa, foram montadas estratégias com conceitos específicos.
No plano financeiro, por exemplo, uma das principais medidas foi criar uma única diretoria para controlar o caixa do grupo.
Com isso, nenhuma das unidades pode ir a bancos emprestar ou aplicar dinheiro sozinha, pois é a diretoria financeira quem sabe onde conseguir as melhores taxas do mercado.
Nas operações do dia-a-dia, a empresa também decidiu fechar diversos pontos de distribuição ou vendas para enxugar toda a estrutura.
"Em regiões onde enviávamos três ou quatro malotes, só estamos mandando um hoje em dia", diz.
Interesses
Jorge do Carmo afirma que a Sharp japonesa está "muito interessada" no seu parceiro no Brasil.
"Eles acreditam no novo presidente, acham o Plano Real coerente e, se tudo der certo, vão tomar o grande mercado brasileiro como porto para seus investimentos", diz. "Isso, se não estragarem tudo".
O executivo afirma que ainda estava no Japão quando o governo brasileiro tomou as recentes medidas de restrição ao crédito e aperto nos consórcios.
"Na ocasião, não entendemos nada", diz.
"Não me faltavam produtos e os preços estavam estáveis. Demorava 30 dias para vender e as negociações ainda estavam duras. A vida não era um mar de rosas como o governo achou", diz.
"Agora, o governo autoriza a venda direta pelo correio. Para o parceiro de fora, essas medidas são horríveis. Como vou convencer um japonês a vir aqui montar uma linha de aspiradores de pó quando meu consumidor pode importar direto, sem impostos, via correio?", diz.
(FCz)

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