São Paulo, terça-feira, 29 de novembro de 1994 |
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Reversão ou respiro? A inflação dá sinais de recuo. A pesquisa semanal da Fipe evidencia que, especialmente entre os alimentos, o ritmo de alta dos preços perde força. Resta saber se se trata de uma reversão sustentável ou apenas de um respiro. Há bons motivos para acreditar na reversão. De fato, o salto que se verificou em setembro e outubro teve origem em fatores temporários, como a seca e a entressafra agrícola, já superados. Em muitos casos, como a carne e o feijão, verifica-se já uma deflação persistente, ou seja, redução de preços. Entretanto, seria ingênuo acreditar que as altas, por terem sido temporárias, esgotam-se em si mesmas. Como é notório, na economia brasileira ainda operam mecanismos de transmissão ou "contaminação" de uns preços por outros. Assim, a inflação do passado não morreu, mas foi repassada a salários e a outros preços. É a indexação que, se não cria inflação, propaga-a. Assim, enquanto os preços de alguns produtos agrícolas têm caído ou parado de subir, uma inflação mais renitente instalou-se em outros elos da cadeia produtiva. Os alimentos industrializados, por exemplo, têm exibido um comportamento de alta regular, sinal de que estão "repassando" inflação. Este, aliás, não é o único sinal preocupante. Multiplicam-se as declarações de lideranças empresariais alertando para a necessidade de correções em vários setores. E a justificativa não é apenas a "inflação do chuchu", mas altas às vezes impressionantes nos custos de matérias-primas, como as embalagens. Há portanto um risco evidente de que o recuo em alguns preços não conduza a uma redução ou mesmo estabilidade generalizada. O maior perigo, se se tratar mesmo apenas de um breve respiro, é o governo assumir o conhecido discurso de que o plano vai bem, bastando esperar para que a inflação recue anônima e persistentemente. Os mercados ainda estão intranquilos e há muito a fazer antes que se possa, quando as pressões inflacionárias estiverem efetivamente revertidas, respirar aliviado. Texto Anterior: Integrar ou isolar Próximo Texto: Lula e a Dinamarca Índice |
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