São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 1994
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Pacientes dizem que escassez já dura 2 meses

ARF
DA REPORTAGEM LOCAL

A escassez de medicamentos para tratamento da Aids na rede pública começou há quase dois meses, a julgar pelos depoimentos de pacientes com a doença.
M.L. tem um irmão de 26 anos com Aids. Segundo M., o tratamento começou há um ano e dois meses, no Centro de Referência e Tratamento-Aids.
Desde o início, seu irmão tomava 400 mg de Videx (DDI) por dia, 200 mg a cada 12 horas. Eram dois comprimidos de 100 mg.
"Há uns quatro meses, começou a falta dos comprimidos de 100 mg. Só havia de 25 mg. Ele tinha de tomar a mesma dosagem, 400 mg. Só que em um número quatro vezes maior de comprimidos. Isso causou efeitos colaterais terríveis, como diarréia muito forte", conta M.
Vicente Ramos de Souza, 34, descobriu que tem a doença há um ano e quatro meses. Costuma pegar medicamentos no Emílio Ribas e, quando não encontra, recorre ao Gapa (Grupo de Apoio e Prevenção à Aids), que nem sempre pode fornecer.
Atualmente ele mora no interior de Minas e diz ter extrema dificuldade para encontrar os remédios, mesmo quando vem a São Paulo. "Vim a São Paulo buscar Vibramicina, um antiinflamatório que custa R$ 15,00 a caixa, que dá para sete dias. Não tenho dinheiro para pagar e não encontrei em nenhum hospital da rede pública", disse Souza na sexta-feira, na sede do Gapa, onde também não havia o remédio.
Segundo ele, o maior problema enfrentado pelos portadores da Aids é o descaso do poder público.
Francisco Luiz Barbosa, 38, conta que perdeu o emprego quando a indústria onde trabalhava descobriu que ele tinha Aids.
Sem dinheiro, não consegue comprar os remédios nas farmácias. Na última sexta, ele foi ao Gapa com uma receita médica em busca de três medicamentos. Um deles era um simples complexo vitamínico. "Já rodei vários hospitais de bairro, Emílio Ribas, HC, mas não acho os remédios", afirmou.

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