São Paulo, quinta-feira, 1 de dezembro de 1994
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Derrotados declaram que nada gastaram

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

As prestações de contas apresentadas pelos partidos em São Paulo revelam a existência de candidatos curiosos, que afirmam ter feito campanhas eleitorais sem desembolsar um centavo.
Ontem, alguns deles tentavam devolver todos os seus bônus eleitorais no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo, acompanhados de uma declaração de que nada gastaram.
Os petebistas Osaias Ferreira e Elpídio Neves, candidatos a deputado federal, declaram ter feito campanhas a custo zero. Neves teve 730 votos e, Ferreira, 713.
Até ontem, eles não haviam conseguido entregar suas prestações de contas ao PTB. Os dois se recusaram a pagar uma taxa de R$ 203,00 exigida pelo partido para o pagamento de um escritório de contabilidade.
O talento para campanhas baratas não é privilégio do PTB. Jorge Peres (PRN) e Franciso Maurício dos Santos (PSB), candidatos a deputado estadual, afirmam não ter gasto um centavo.
Santos recebeu R$ 25 mil em bônus e devolveu todos para o partido. Conseguiu 3.139 votos.
Peres fez uma estimativa modesta de custos e diz ter feito uma campanha mais modesta ainda. Pediu R$ 2.000 em bônus, que retornaram ao PRN. Obteve 1.536 votos.
Há candidatos que simplesmente não prestaram contas a seus partidos. O PFL, por exemplo, entregou suas contas ao TRE sem os documentos de 8 de seus 83 candidatos proporcionais.
Outros dizem que os bônus se perderam ou foram roubados.
Raphael Ivo Caliente (PTB), candidato a deputado federal, não se enquadra em qualquer dessas categorias. Segundo ele, seus bônus foram apreendidos pelo delegado de Guaxupé (MG) em 29 de setembro -quatro dias antes da eleição. Caliente disse ao TRE que estava na cidade para vender os bônus eleitorais.
Afirma ter sido preso porque seu "anfitrião" não pagou a conta do hotel em que estava hospedado. Só foi solto no dia 6 de outubro, graças a um habeas corpus. Sem os bônus, Caliente diz que está impossibilidato de prestar contas.
Todos os partidos, com exceção do Prona, entregaram sua prestação de contas ao TRE ontem -último dia de prazo.
O TRE vai correr contra o tempo para analisar todas as prestações de contas entregues ontem.
O corregedor eleitoral, Márcio Martins Bonilha, considera impossível concluir o trabalho até oito dias antes da diplomação dos eleitos, como diz a lei. A diplomação ocorrerá no dia 15 de dezembro.
Bonilha avalia que a análise das contas terminará dois dias antes.
Bonilha contará com uma equipe de 19 pessoas. O corregedor diz que estudará com cuidado as contas de candidatos que "deram mostras de poderio econômico".

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