São Paulo, quinta-feira, 1 de dezembro de 1994
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Brasil não sabe quantas pessoas têm vírus da Aids

CLÁUDIO CSILLAG
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Até segunda-feira passada, o Brasil tinha 58.594 casos registrados de Aids. Mas o número mais importante ninguém conhece: quantas pessoas infectadas com o vírus da Aids, com ou sem sintomas da doença, há no país.
Um programa lançado pelo Ministério da Saúde, com o sugestivo nome de Vigilância Sentinela, dá uma idéia. E mostra que há muito mais pessoas infectadas com o HIV do que os números oficiais indicam.
Em Belém, no Pará, há 19,6 casos de Aids para cada 100 mil habitantes, um número relativamente baixo. A Vigilância Sentinela mostrou que até 9,5% da população investigada pode ser portadora do vírus.
Apesar de o programa envolver uma parcela específica da população (leia texto ao lado), o número é muito alto.
"A quantidade de casos lá sugeria que a epidemia era insignificante", disse à Folha Lair Guerra de Macedo, coordenadora do programa nacional de combate à Aids do ministério.
"Mas o nosso programa mostrou que, na população estudada, a quantidade de pessoas infectadas com o vírus é alta demais."
A discrepância de dados sugere três alternativas: ou as autoridades não estão conseguindo notificar todos os casos de Aids na área, ou houve recentemente um número grande de novas infecções que ainda não se manifestaram, ou ambas.
Qualquer que seja o caso, a situação é preocupante, pois significa que há a possibilidade iminente de explosão da Aids. Se não forem tomadas medidas de controle, a possibilidade transforma-se em certeza.
"Essa foi exatamente uma das vantagens que a vigilância nos proporcionou", declarou Guerra.
"Com esses dados na mão, pudemos negociar com as autoridades da Saúde do Estado, que se convenceram da gravidade da situação e puderam se adequar a ela."
Outro caso preocupante foi registrado na cidade portuária de Itajaí, em Santa Catarina, onde a Vigilância Sentinela revelou que 2,16% da população estudada é portadora do vírus.
Apesar de mais baixa do que em Belém, a taxa é mais grave.
Em Belém, é pouco provável que o grupo investigado seja representativo de toda população, pois é formado por pessoas que podem estar associadas a um comportamento de risco (são pessoas que buscam assistência médica em clínicas para doenças sexualmente transmissíveis).
Em Itajaí, o grupo estudado é formado por mulheres grávidas em atendimento obstétrico. É mais provável que essa amostra seja representativa de toda a população feminina da cidade.

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