São Paulo, quinta-feira, 1 de dezembro de 1994
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As sequelas do câmbio

LUÍS NASSIF

Há uma aposta perigosa nessa história de que o país precisa ser deficitário em transações correntes, para poder se habilitar a investimento estrangeiro maciço.
A presunção é de que é impossível conviver simultaneamente com grandes superávits comerciais (dólares entrando via balança comercial) e com investimentos estrangeiros (dólares entrando via mercado financeiro) sem uma valorização do real. O que é correto.
Mas já que a valorização é inevitável –dizem esses especialistas– a política cambial atual é correta ao empurrar o dólar ladeira abaixo. E aí se exagera.
Tenta-se copiar os processos de estabilização da Argentina e do México, julgando que, emulando as sequelas, haverá eficácia no tratamento. A sobrevalorização das moedas de ambos os países constituem-se, hoje em dia, no calcanhar-de-aquiles de seus programas.
Argentina e México produziram monumentais déficits comerciais, devido à valorização excessiva de sua moeda. Nos primeiros anos, esse déficit foi coberto pela venda de estatais e pelo grande afluxo de recursos externos que marca todo início de processo de estabilização.
Ocorre que, em todo processo de estabilização, o pico de recursos externos ocorre nos primeiros anos. É quando os ativos locais estão depreciados por anos de crise, permitindo ganhos maiores a quem os compra.
Depois que os preços atingem níveis internacionais –devido tanto à valorização interna quanto à valorização da moeda local– tornam-se menos interessantes para o capital de risco. Há o refluxo inicial na entrada de recursos financeiros, sem que a balança comercial compense –porque ficou-se preso à armadilha da ancoragem do câmbio.
Cria-se o pior dos mundos. Quanto mais aumenta o déficit em transações correntes, mais aumenta o risco do país. Quanto mais aumenta o risco, mais reduz-se o ingresso de capitais externos.
Se a ancoragem é essencial, não se poderia ter deixado o câmbio cair tanto.
Renda mínima
A decisão do prefeito de Campinas, José Roberto de Magalhães Teixeira (PSDB), de instituir o programa de renda mínima para seus cidadãos inaugura um processo de assistência social direta, sem mediações e sem grandes estruturas.
A prefeitura se compromete a suplementar a renda de cada cidadão, até o limite de R$ 140,00 por filho. Se o cidadão tiver três filhos e uma renda mensal de R$ 300,00, a prefeitura cobre os R$ 120,00 restantes.
O programa se destinará a famílias com crianças em situação potencialmente de risco (dessas que vendem produtos em cruzamentos, ou perambulam pela cidade). A condição é que a criança seja mantida na escola pública. Custo previsto do programa: apenas 1% do orçamento público.

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