São Paulo, quinta-feira, 1 de dezembro de 1994
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Caetano e Gil vêm de banquinho e violão

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Show: Tropicália Duo
Intérpretes: Caetano e Gil
Onde: Palace (al. Jamaris, 213, tel. 531-4900, Moema, zona sul)
Quando: hoje e amanhã, às 21h30, sábado, às 22h, domingo, às 20h, e nos próximos dias 9, 10 e 11
Ingressos: de R$ 35,00 a R$ 80,00

Depois de passarem pelo Rio e por Belo Horizonte, Caetano Veloso e Gilberto Gil chegam a São Paulo pela primeira vez juntos e sozinhos.
"A gente nunca fez um show só os dois. Só os dois e só com violão, isso nem para nós mesmos nunca tínhamos feito", disse Caetano anteontem, na entrevista coletiva de que os dois compositores participaram.
O show "Tropicália Duo" foi criado pela impossibilidade econômica de excursionar pela Europa e os Estados Unidos com toda a banda que participou do disco "Tropicália 2". Algumas músicas desse disco e sucessos de Caetano e Gil compõem o show, que alterna os duos e os solos no palco (leia o quadro abaixo).
Depois de São Paulo, o show segue para Salvador, onde encerra sua carreira. Segundo Caetano e Gil, é improvável que este show acústico venha a se tornar um disco. Mas não é impossível. Uma apresentação no Rio foi gravada "por insistência de Liminha", disse Gil.
Caetano e Gil, dois eleitores confessos de Fernando Henrique Cardoso, parecem estar neste momento numa mesma sintonia otimista em relação ao Brasil. "Eu sinto uma descontração geral da sociedade, que parece querer ter melhores expectativas. O repertório temático sobre o Brasil, a inserção do país na economia mundial, tudo isso aparece hoje melhor do que um ano ou dois anos atrás", disse Gil.
Exército no morro
A mesma visão otimista os dois procuram ter em relação à ocupação do Rio de Janeiro pelo Exército. "Estou torcendo para que tudo que está sendo feito tenha os melhores resultados", disse Caetano. "Que façam da melhor maneira possível, com os melhores resultados", disse Gil.
Os dois apóiam o que consideram uma "demonstração de vontade política de enfrentar aquilo", como diz Caetano. "O que complementará a ação deles, o que que fica, isso é importante. Acho que isso pode ter um papel na tomada de posição geral da sociedade e do governo em relação a esse problema. E pode ser uma coisa positiva para as próprias comunidades. Se a coisa visa o tráfico de drogas, eles têm que aprofundar as investigações, têm que sair do morro e ir para onde as decisões são tomadas", disse Gil.
Caetano só ressaltou sua infelicidade ao ver, na saída do show de Daniela Mercury, "os fuzis e os tanques do Exército apontados para a Mangueira". "Não esperava por essa, me doeu", disse.
Ele aproveitou ainda para fazer um manifesto, quase solene, em favor do governador do Rio, Leonel Brisola: "Orgulho-me de ter votado em Brisola nas eleições passadas. A imprensa do Rio atribuiu a Brisola o tráfico de drogas na Colômbia, o consumo de drogas pelos ricos americanos, paulistas e cariocas. Segundo a imprensa carioca, ele criou o tráfico de drogas. Eu quero reiterar meu respeito histórico por Leonel Brisola neste momento em que o Rio está com uma intervenção mais ou menos combinada entre governo de Estado e governo federal."
Monstro brasileiro
Mas se os dois tropicalistas só têm boas palavras para falar do Brasil, na hora em que se fala da campanha de Caetano pela segurança no trânsito aparecem termos como "burrice", "imbecis" e "monstros" –todos relativos ao motorista.
"Não há medida para a necessidade que temos de que se imponham limites ao motorista brasileiro. É desumano. Tudo que for feito para limitar isso em princípio é bom, sou a favor e não quero nem saber. Todas as proibições são melhores que as liberalizações, tudo o que for repressão ao monstro brasileiro que está ao volante é bem-vindo", disse Caetano.
Gil, menos irado, concorda que as multas para os que não usam cinto de segurança possam trazer bons resultados.
"De gente que fura sinal e que assalta nós estamos cheios. São dois tipos de criminosos dos quais nós devemos nos livrar. Você não pode desculpar um pelo outro. Se fosse assim, bastava mandar tirar todos os sinais que nunca mais tinha assalto", são os argumentos de Caetano contra a "burrice", segundo ele, de não parar no sinal com medo de ser assaltado.
Planos
Gil deve gravar a partir de abril seu novo disco. Caetano diz que tem pensado, como possibilidade mais ou menos concreta, num novo filme e descarta a possibilidade de fazer um show com as músicas de seu último disco, "Fina Estampa". "Nunca me imaginei fazendo uma excursão toda cantando só numa língua estrangeira", disse.
Para janeiro, os dois anotam na agenda o show dos Rolling Stones.

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