São Paulo, quinta-feira, 1 de dezembro de 1994 |
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'Incidente' coloca em suspeita 'padrão Globo'
DANIEL PIZA
A nova minissérie literária da emissora, "Incidente em Antares", tem tantos problemas de roteiro, direção e produção que deve estar fazendo o autor do livro, Érico Veríssimo (1905-1975), imitar um de seus personagens: abrir o próprio caixão e partir em vingança impiedosa contra os vivos. A julgar pelo primeiro dos 20 capítulos da minissérie, exibido anteontem à noite, a Globo desaprendeu aquilo que melhor parecia dominar: o artesanato de folhetins. Pudera. De uns anos para cá, talvez desde a invenção do infame "Você Decide", tem tratado folhetim como boletim. Desde que decidiu alimentar o espectador com falsas questões éticas, enfia-lhe goela abaixo as piores atuações e os mais precários cenários da história. Para "Incidente em Antares", convocou as maiores estrelas de seu elenco, quiçá percebendo que sua reputação anda em baixa no setor: Fernanda Montenegro, Marília Pêra, Cláudio Corrêa e Castro. Acertadamente. Eles, ao lado de um surpreendente Paulo Betti, são os mantenedores da peteca; sem sua noção de tempo, tudo não passaria de uma comediota. Mas algumas coisas nem o brilho de Fernanda Montenegro pode ofuscar. O cenário do cemitério, por exemplo –de um kitsch mexicano. A sonoplastia –provavelmente comandada por algum profissional dos "Trapalhões". Os efeitinhos especiais. Sobretudo, a má direção e o roteiro apelativo. O que é má direção? É calibrar mal a duração de cada cena. Assim, a câmera se demora, por exemplo, numa constrangida Regina Duarte olhando infindáveis segundos o fio telefônico, ou num ridículo Paulo Goulart divertindo-se com o lençol. E os apelos de roteiro são cenas –que confundem Érico Veríssimo com Jorge Amado– como a de Goulart com uma morena brincando de "curvas" e "morrinhos". É ver para não crer. (Daniel Piza) Texto Anterior: Diretor é revelação Próximo Texto: 'Por Acaso' melhora com novo formato Índice |
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