São Paulo, quinta-feira, 1 de dezembro de 1994
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Argentina mantém brasileiro preso

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

A Polícia Federal argentina vai manter detido por tempo indeterminado o brasileiro Wilson dos Santos, 39, até determinar seu envolvimento no atentado à sede da Associação Mutual Israelita Argentina, em 18 de julho, em Buenos Aires, que matou 96 pessoas.
Santos pediu ao consulado brasileiro na capital argentina o envio de comida à prisão de Vila de Corvo, na Grande Buenos Aires.
A Polícia Federal argentina recusa-se a fazer qualquer comentário oficial sobre a detenção.
Segundo a Folha apurou junto à Secretaria de Inteligência de Estado (órgão de informação da Presidência argentina), Santos está detido porque a PF ainda não chegou a uma conclusão sobre a veracidade de seus depoimentos.
Nas primeiras declarações, no último dia 12, ele relatou às autoridades argentinas informações sobre a preparação do atentado à Amia. Uma semana depois, em depoimento voluntário, negou todas as declarações.
No mesmo dia, Santos foi detido pela PF. O brasileiro está em uma cela na prisão de Vila de Corvo com mais quatro pessoas.
Até agora, ele se recusa a fornecer ao consulado brasileiro qualquer informação sobre os seus familiares no Brasil.
Santos já foi interrogado por integrantes do Mossad (Serviço de Inteligência de Israel).
O que mais intriga o Serviço Secreto da Argentina e de Israel é o fato de o primeiro depoimento de Santos não ser compatível com o modo de operar dos grupos Hizbollah e Hamas.
Esses dois grupos não costumam recrutar pessoas estranhas à causa islâmica. Por isso mesmo, a PF suspeita de seu depoimento.
Oficialmente, ele está detido por falso testemunho. Na prática, continuará preso até que o serviço secreto chegue a uma conclusão sobre a veracidade ou não dos depoimentos contraditórios.
Reservadamente, a PF argentina e a Secretaria de Estado reclamam da pouca colaboração do governo brasileiro nas investigações sobre o atentado à entidade judaica.
Os órgãos de inteligência da Argentina e de Israel apostam na existência de uma base de terroristas islâmicos na fronteira do Brasil com a Argentina. Esse dado, segundo os argentinos, é menosprezado pelo governo brasileiro.

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