São Paulo, quarta-feira, de dezembro de |
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O calendário
JOSIAS DE SOUSA Josias de SouzaBRASÍLIA – Humberto Lucena deve ser um bom chefe de família. Aí estão a comprovar os depoimentos de sua filha, Lisle, incansável defensora do pai. Compute-se um outro ponto a favor do senador: seu patrimônio, revolvido durante as investigações da CPI do Orçamento, parece compatível com a sua renda. Até prova em contrário, não se pode, portanto, compará-lo aos personagens expurgados do Legislativo graças à lama do Orçamento. Soaria injusto. Mas como político, o atual presidente do Congresso sofre de um incurável defeito: é pequeno, um anão-parlamentar, espécie de despachante de pequenas causas. Despacha para si –tem vários parentes instalados no aparato do Estado– e para terceiros, em geral amigos e aliados políticos. A sessão de ontem do STF ofereceu uma eloquente evidência do nanismo ético de Humberto Lucena. Reuniram-se as principais e mais bem remuneradas togas do país para debater o caso dos calendários. O episódio é conhecido. Como senador, Lucena valeu-se da Gráfica do Senado para imprimir 130 mil calendários com sua foto. Distribuiu-os entre os eleitores. O TSE cassou-lhe a candidatura. Graças a uma decisão judicial provisória, pôde manter-se na disputa. Eleito, aguardava o pronunciamento do STF, para saber se poderia ou não tomar posse. Ao negar provimento ao recurso de Lucena, o STF terminou por manter a cassação. Assim, o presidente do Congresso, um dos Poderes da República, cai por causa de um calendário. Sob a argumentação de que muitos parlamentares se utilizam irregularmente da Gráfica do Senado, os defensores de Lucena afirmam que a punição foi injusta. Invertem-se os valores. A injustiça não está na cassação de Lucena, mas na ausência de punição para os deputados e senadores de mesma estatura. Num país de tantos desafios, não pode haver espaço para políticos sem a dimensão de suas atribuições. Que sejam punidos os demais. Texto Anterior: Um bom jornal Próximo Texto: O preço da tranquilidade Índice |
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