São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994
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Debate traz sugestões à ação militar no Rio

DA REPORTAGEM LOCAL

A participação do Exército no combate à violência no Rio foi considerada positiva pelos quatro participantes do debate promovido anteontem pela Folha. As divergências são quanto ao tempo de duração da operação, seu comando, atribuições dos militares e o que fazer para que, com a saída do Exército, os traficantes não reassumam o controle das favelas.
Participaram do debate "Propostas para o Combate à Violência no Rio" o general Newton Cruz, o secretário municipal do Meio Ambiente do Rio, Alfredo Sirkis, o presidente da OAB/Rio, Sergio Zveiter, e o presidente do movimento Viva Rio, Rubem Cesar Fernandes. O mediador foi Luiz Caversan, diretor da Sucursal do Rio da Folha.
Na opinião do general Newton Cruz, o comando de toda a operação deveria ser exercido pelo governo estadual. O Exército cuidaria do cerco aos morros. Às policiais Civil e Militar caberia a tarefa de entrar nas favelas, apreender armamentos e efetuar as prisões.
"É preciso aprimorar, de todas as formas, o aparelho policial. Seja eliminando aqueles que não podem continuar dentro da corporação, seja melhorando a parte de vencimentos e moradia", disse Cruz, candidato derrotado ao governo do Rio pelo PSD.
Para Alfredo Sirkis, o problema da violência nos morros deve ser resolvido, em primeiro lugar, com uma campanha consistente para desarmar a população. Em segundo lugar, pelo fim do controle territorial exercido pelos traficantes. "Qualquer outra missão do Exército passa a ser missão impossível. As Forças Armadas não podem se transformar numa gigantesca delegacia de entorpecentes", disse.
Sirkis afirmou ainda que a figura do "bandido social" –o traficante que faz benfeitorias no morro– está acabando. Prisões e mortes têm provocado alta rotatividade na liderança do tráfico que impede a criação do "protetor". "Temos bandidos cada vez mais novos, com 16, 17, 18 anos, e cada vez mais despreparados."
O presidente da OAB/Rio, Sergio Zveiter, afirmou que a presença do Exército nas favelas é uma situação excepcional que deve ser revertida o mais rápido possível.
Zveiter propôs uma "limpeza na polícia" que, acredita, "foi contaminada pela corrupção". Propôs também a reunificação das polícias Civil e Militar em um só comando e a participação do Ministério Público e da Defensoria Pública como fiscais da polícia.
Para o presidente da OAB/Rio, o principal responsável pela violência na cidade é o governo do Estado que "não tomou providências quando deveria". Zveiter levou ao presidente Itamar Franco a proposta de instituir o estado de defesa no Rio –quando direitos constitucionais são suspensos.
Rubem Cesar Fernandes, presidente do Viva Rio (movimento da sociedade civil que tem como objetivo discutir propostas para a revalorização do Rio), afirmou que a operação das Forças Armadas, no seu conjunto, é necessária e tardia.
"De positivo, o que a operação conseguiu foi o controle sobre as forças policiais, que estavam sobre a expansão da bandidagem."
Para ele, esta é uma operação de passagem, para que os novos governos, estadual e federal, possam atuar sobre os problemas de longo prazo de segurança no Estado. "Será trágico e frustrante se o convênio com o Exército for concluído no dia 31 de dezembro."

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