São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994 |
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Nos anos 60, terrorista dava aula de OSPB
BARBARA GANCIA
Tinha 12 pubescentes anos à época e estudava em uma escola estrangeira, onde nenhuma aula era ministrada em português. A rara exceção se constituía em uma modorrenta matéria então imposta pela lei, a extinta OSPB (Organização Social e Política do Brasil). Dona Latife nos ensinava OSPB com empolgação comparável à do professor de literatura vivido por Robin Williams em "Sociedade dos Poetas Mortos". Não me recordo ao certo qual sua ligação com a Escola Superior de Guerra, mas lembro que dona Latife costumava se vangloriar das palestras de que participava naquele instituto. Tinha grande afeto por dona Latife, uma senhora de meia-idade que, a todas as horas do dia, aparentava ter acabado de sair do cabeleireiro. Gostava especialmente quando ela fugia da chatíssima aula e divagava sobre os atos de bravura perpetrados por heróis do Exército na luta contra os terroristas sanguinários que tentavam desbaratar a Ordem no país. Lembrei de dona Latife outra noite, ao assistir a emocionada entrevista em que Clara Charf, viúva de Marighella, falou a Jô Soares sobre a honradez e o patriotismo do marido. É bobagem dizer que o Brasil não muda e não aprende com sua história. Se isso fosse verdade, hoje não saberíamos que os verdadeiros vilões são as donas Latifes da vida, que usam de métodos selvagens para distorcer a realidade. Texto Anterior: Editora vai premiar quem achar boneco de Sabino Próximo Texto: Pela culatra; Escassez; Lixo Índice |
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