São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994
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O fim de um ciclo

SÍLVIO LANCELLOTTI

O fracasso do Milan na Copa Toyota enfim vai sepultar um grande ciclo da história do futebol no mundo. Um ciclo de importância e de implicações muito além do mero campo esportivo –que podem até detonar Sílvio Berlusconi, o premiê da itália.
Berlusconi é um nome recente na relação dos bilionários da Bota. Sua fortuna começou a fermentar em meados da década de 60, quando ele não tinha 30 de idade, mas já construía, ao redor de Milão, conjuntos habitacionais.
Doutor em marketing, logo Berlusconi ampliou a sua frente de atuação, invadindo o mercado financeiro e o cenário das comunicações. Comprar o Milan, em 1986, foi apenas a realização de um sonho de bambino.
Sonho providencial. Na sua gestão o Milan conquistou quatro vezes o "scudetto" da Bota, três vezes a Copa dos Campeões da Europa, duas vezes a Taça Intercontinental de clubes. E de repente o Milan ficou pequenino demais para Berlusconi, que entrou na política, fundou um partido e ganhou a primeira eleição que disputou.
Ironicamente, depois que Berlusconi se tornou o premiê da Itália, o Milan começou a ruir pateticamente. No campeonato nacional, está longe de tentar a conquista de um inédito tetra. Já foi eliminado da Copa da Bota. Necessita de um milagre para se qualificar às quartas-de-final da Copa dos Campeões. E agora refina a sua crise com a derrota de Tóquio.
O infortúnio do grande Baresi no segundo gol do Vélez, uma bola atrasada horrorosamente, resume a decadência do Milan. Peço desculpas pela obviedade –não existe a eternidade do sucesso, porém. A desgraça de Baresi diante do Vélez representa o melhor emblema do fim do grande Milan.
E eu não considero apenas uma simples coincidência esse fim acontecer no entorno da ascensão política de Berlusconi, com todas as complicações que o poder atrai. De um lado, o presidente se afastou do clube e o entregou a subalternos sem o mesmo carisma e a mesma competência. De outro, se tornou um alvo claro às acusações de manipulação de cargos e de verbas, às acusações de corrupção.
Tal soma de fatores, mais o cansaço natural da longa convivência, degringolaram a moral do time e a união dos jogadores.
Situações complexas se tratam com choques. Aguarde uma profunda reformulação –até mesmo com a queda de Fabio Capello, um grande treinador, mas um lamentável piloto nas tempestades.

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