São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994 |
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W/Brasil lança CD que reúne suas trilhas
MATINAS SUZUKI JR.
Legenda de foto desta reportagem está incompleta. Na foto (reproduzida nesta seção), ao lado do publicitário Washington Olivetto (esquerda), está Gabriel Zellmeister, vice-presidente e diretor de criação da W/Brasil, não identificado na legenda. Publicidade pode ser arte? Esta é uma questão muito fácil e muito difícil de responder. Seja na alternativa fácil, seja na difícil, seja na nenhuma das anteriores, caberá mais uma pergunta de muitas respostas: esta não é uma questão muito antiga? Enquanto você decide, está chegando às lojas de discos, em um lançamento da Warner, um autêntico trabalho de publicidade que invadirá a sua vida sob as formas mais suspeitas de aliciamentos. São canções que ajudaram você a consumir e que agora consumirão você. A publicidade cria o paraíso artificial através da carência real. Quem ousará ter medo? Quem ouviu Bola de Nieve cantar os pregões de vendedores ambulantes cubanos sabe que, na música, sempre estará inscrita a possibilidade deste reclame. A música popular e a publicidade brasileiras são armas quentes. Há toda uma bela história dos compositores, dos músicos, dos cantores e seus jingles. Esta relação rendeu pelo menos um clássico de nossas vidas: a canção "W/Brasil", na qual foi possível ver todo um momento do país através do funk de Ben Jor. Como criador, Washington Olivetto sabe que precisa estar plugado no imaginário popular. E ele estudou na escola que ensina que a música é a alma de um filme. A W/Brasil definiu um conceito: recriar canções para os filmes publicitários de determinados produtos. O resultado foi uma surpreendente política musical. (Na verdade, hoje você não comunica só um produto: comunica também uma atitude, um comportamento, um modo de ser. Saber usar a música é fundamental). "País Tropical", do então Jorge Ben, teve várias gravações importantes (a do próprio Jorge, a do Simonal, e, talvez, a melhor, a de Gal Costa no auge da Tropicália). A canção do patropi recebeu mais uma versão justa dos Paralamas do Sucesso, encomendada pela W/Brasil para um comercial das sandálias Rider. Depois foi a vez de um verdadeiro cult: "Como Uma Onda", o zen-surfismo de Lulu Santos e Nelson Motta, recebeu tratamento canonizador de Tim Maia (Rider). E ainda teve o pedido para a paulista Rita Lee fazer a perfeita tradução da "Felicidade" gaúcha de Lupiscínio Rodrigues (Rider). Esta é uma época de releituras. As três acima mencionadas são excelentes –e, talvez, tanto pelo conceito quanto pela realização, o ponto alto do CD "W/Hits". Há mais: re-interpretações feitas pelo próprio intérprete. Como Os Novos Baianos cantando outra vez "Brasil Pandeiro", do genial Assis Valente, para Rider. Ou como o Moraes Moreira, recantando "Preta Pretinha", dele e do Galvão (para o Boticário). As canções que não são "exclusivas" para a W/Brasil, formam uma seleção representativa do luxo do luxo e do luxo do lixo. "Coisa Mais Linda", do Vinícus e do Carlinhos Lyra, com João Gilberto (Boticário), e "Marina", do Caymmi, com Dick Farney (Boticário), são pérolas valiosas. "Pense em Mim", com Leandro e Leonardo (Bom Bril), e "Rock do Jegue", com Genival Lacerda (Triton), são o lado (in)vulgar do gosto brasileiro. "What's up", com 4 Non Blondes (Antarctica), e o achado boleresco de "Piensa em Mí", com Linda Ronstadt, fazem parte da trilha internacional da W/Brasil. O chororô de "Maddy Maddy Cry", com Papa San, é um daqueles casos em que o comercial só nasceu para ilustrar a música. Não poderia faltar, além da "W/Brasil", a "Engenho de Dentro", do Ben Jor. É outra canção premonitória: ela diz que o dólar iria baixar e o cruzeiro subir. A capa do CD é uma holografia em movimento, criada pela própria W/Brasil."W/Hits" certamente será um hit deste fim de um ano em que quase tudo aconteceu. Um compositor brasileiro diz: "esses delírios nervosos/ dos anuncios luminosos/ que são a vida a mentir". Mas que a gente acredita neles, acredita. Cheers. Próximo Texto: Periscópio; Golden Gate Índice |
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