São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994
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Especialistas querem pólo financeiro no Rio

DA REPORTAGEM LOCAL

A criação de um pólo financeiro e de um entreposto voltado para o comércio exterior, aliada a uma campanha que acabe com a discriminação para obtenção de verbas a que o Rio de Janeiro vem sendo submetido são algumas propostas para a retomada do desenvolvimento econômico do Estado.
As conclusões resultaram do segundo debate promovido anteontem pela Folha sobre a situação do Estado.
Estiveram presentes o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio, Sergio Quintella, o consultor do Plano Estratégico do Rio, Claudio Frischtak, e a cientista política Aspásia Camargo, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas). O debate foi mediado por Marcelo Beraba, secretário de Redação da Folha.
Todos os debatedores acreditam que a transferência do Banco Central para o Rio seria a alavanca para a criação do pólo financeiro.
O principal argumento é que a transferência da instituição de Brasília para o Rio arrastaria em sua órbita outras empresas e o fortalecimento do pólo. "Nos Estados Unidos, o banco central não está na capital Washington, mas sim em Nova York, até para ficar mais longe das pressões políticas e do clientelismo", disse Aspásia Camargo.
A criação de um entreposto comercial foi defendida por Claudio Frischtak. "Temos dois bons aeroportos, dois bons portos, a rede ferroviária e a rede rodoviária prontos. Precisamos de comunicação e de uma maior articulação dessa intermodalidade. Nós somos o ponto de entrada e o espelho do Brasil. Há, evidentemente, necessidade de investimentos", afirmou.
Para Sergio Quintella, um dos problemas do Rio é a discriminação, por parte do governo federal, que dura 20 anos.
"O Rio não tem acesso a financiamentos internacionais, que estão bloqueados. Outro exemplo é o preço pago pelos royalties sobre a produção de petróleo. Além de o Rio ter recebido o primeiro pagamento com dez anos de atraso, arrecada hoje com royalties um quarto do que qualquer produtor internacional", disse Quintella. Graças às extrações da bacia de Campos, o Rio é o maior produtor de petróleo do país.
Segundo os debatedores, o maior golpe na economia do Rio aconteceu com a transferência da capital federal para Brasília –em 1961– e, talvez mais impactante, a fusão da antiga Guanabara com o Estado do Rio, em março de 1975.
Na opinião de Aspásia Camargo, a fusão foi devastadora. "Fundiu-se o moderno, representado pela cidade, com o arcaico e clientelista, que é o interior do Estado. Com a fusão, criou-se o conflito cariocas versus fluminenses."
"Hoje, a solução não é separar de novo, mas integrar as duas realidades. A chave da regeneração está nas parcerias", disse Frischtak. Para Aspásia Camargo, a integração tem que ser ainda maior: "Temos que formar um macroeixo com os Estados de São Paulo e Minas Gerais".
É concordância geral também que o desenvolvimento econômico do Rio depende de o Estado "instaurar a ordem pública e decretar o fim da rede de negócios ilícitos".
Os debatedores identificam atualmente um clima "inóspito" para novos investimentos no Rio. Mas constatam também que a cidade tem recursos humanos subutilizados que, em um novo ciclo de crescimento, poderiam compor uma espécie de centro de serviços avançados.

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