São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994
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Livro mostra o mar de riquezas do sertão

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Existe um único exemplar da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) livre em toda a Terra. Os outros trintas exemplares vivem em ambiente fechado para preservação.
Este único macho da ararinha-azul vive na zona da caatinga, em Curaça, na Bahia. Só ele tem o saber da sua espécie, só ele conhece como viver livre na natureza.
O macho da ararinha-azul de Curaça vive um momento decisivo nesta primavera quase verão. Estão tentando o seu acasalamento. Seria mais uma vitória da vida.
A saga da ararinha-azul de Curaça é reveladora do repertório de riquezas escondido em uma região desprezada, e mais do que isto, ignorada, pelo Brasil: a caatinga.
Pois este enorme pedaço de natureza sem amenidades, que recobre grande parte do nosso Nordeste, é tema de um dos livros mais importantes já editados por aqui.
"Caatinga: Sertão, sertanejos" é a última realização da editora Alumbramento (com financiamento do Lloyds Bank) e será lançado na semana que vem.
Uma primeira edição será destinada exclusivamente aos clientes do Lloyds. A segunda irá para as livrarias em março de 1995.
Para quem conhece o trabalho de Salvador Monteiro e Leonel Kaz na Alumbramento, fica difícil imaginar que eles façam edições ainda melhores que as anteriores.
"Amazônia Flora Fauna", livro anterior da editora, por exemplo, ganhou o Grande Prêmio de Excelência Gráfica, da Associação Brasileira de Indústria Gráfica.
Para fazer "Caatinga", foram tiradas 10 mil fotos (o livro tem 177, em 256 págs. de papel especial encomendado na Alemanha), em seis meses de trabalho.
A expedição fotográfica-científica viajou do Raso da Catarina e Central, na Bahia, a Quixadá, no Ceará e a São Raimundo Nonato, no Piauí, recolhendo material.
Na utopia redentora de Glauber Rocha, o sertão vira mar. Aziz Ab'Sáber, em belo texto, diz que todos os rios do Nordeste, em certa época, correm para o mar.
Pátria sertaneja independente, como canta o Olodum. Do Nada nasce o mito: Canudos, Antonio Conselheiro, Lampião, Palmares.
O deserto é fértil. Tem a mais alta taxa de fertilidade humana das Américas. E o sertanejo é mesmo o nosso forte.

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