São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994 |
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Childs traz obras-primas abstratas
ANA FRANCISCA PONZIO
Através de obras-primas abstratas, Childs cria novos níveis de percepção. Costuma-se dizer que as repetições quase obstinadas que marcam suas coreografias são capazes de estimular a consciência, o questionamento e a reflexão. Cultuada na Europa, onde acaba de colaborar em uma ópera dirigida por Luc Bondy, Childs vem realizando parcerias com proeminentes músicos contemporâneos, como Iannis Xenakis, Gyorgy Ligeti, John Adams e, mais recentemente, Henryk Górecki. Entretanto, foi Philip Glass que tornou-se emblemático na carreira de Childs. A partir do encontro com Glass, ocorrido quando os dois participaram da ópera "Einstein on the Beach", de Bob Wilson, ela passou a usar música. Antes, coreografava em silêncio. Com Glass, Childs iniciou nova fase em 1979, quando ambos realizaram "Dance". A cenografia desta peça é um filme criado pelo artista plástico Sol LeWitt, que, com suas idéias conceituais, influiu na arquitetura cênica da coreógrafa. Tanto a música de Glass quanto as imagens abstratas de LeWitt, cujos movimentos parecem influir na velocidade dos bailarinos, formam uma estrutura única com a dança, que se desdobra num jogo infinito de combinações. A partir de uma sucessão de passos simples, encadeados com precisão e fluência, Childs desenvolve uma nova teatralidade. Sintetizando essas qualidades, "Dance" se contrapõe a "Concerto", uma peça de nove minutos, criada ano passado ao som de "Concerto para Cravo e Corda", de Górecki. Nesta peça curtíssima, a intensidade quase barroca da composição de Górecki produz um certo clima de júbilo, percebido pela pulsação que a coreografia instala no ambiente cênico. No programa desta temporada, vale também notar a utilização da técnica clássica do balé, nunca descartada por Childs. "O vocabulário clássico me ajuda a formular sequências longas de movimentos, e ainda permite aos bailarinos absorver rapidamente as estruturas complexas que desenvolvo", ela diz. Com absoluto domínio da dinâmica espacial, as criações de Lucinda Childs são verdadeiras aulas de composição coreográfica – que chegam ao Brasil 30 anos após o início do movimento pós-moderno, em Nova York. Texto Anterior: Inéditos de Drummond cantam Rio de Janeiro Próximo Texto: O que elas querem é desossar o peru! Índice |
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