São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994
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Comércio mais livre

Resultado dos oito anos de turbulenta negociação, o texto final da Rodada Uruguai do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) acena com um enorme e bem-vindo crescimento no comércio mundial e tende a afastar o espectro do refluxo protecionista que rondava o planeta até bem pouco tempo atrás.
É animador portanto que o acordo tenha superado um crucial entrave com sua aprovação, esta semana, pelo Congresso dos Estados Unidos, abrindo caminho para que entre em vigor já no ano que vem.
Até agora 40 nações ratificaram o texto, mas a expectativa é que mais de cem países o façam até o final do ano. Muitos esperavam a decisão de Washington, já que nenhum acerto global de comércio seria eficaz sem a participação do titã econômico norte-americano. Sintomaticamente, o Japão ratificou o acordo um dia depois dos EUA.
O resultado da votação decerto representa uma vitória para o presidente Bill Clinton, que se empenhou pesadamente em prol da aprovação e tenta se recuperar do fiasco eleitoral dos democratas. O impacto do acordo, porém, é imensamente maior do que isso.
A Rodada Uruguai prevê uma redução tarifária média de mais de 30%, além de diminuir quotas e outras barreiras comerciais. Estima-se que vai gerar um incremento no volume de comércio mundial equivalente a várias centenas de bilhões de dólares por ano.
Está prevista ainda a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), que vai substituir o Gatt com maior poder para resolver disputas comerciais. Esse órgão acena com um saudável fortalecimento da chamada diplomacia multilateral, em oposição às práticas de retaliação unilateral e arbitrariamente adotadas por este ou aquele país. Ainda que os EUA tenham feito a ressalva de que um órgão interno vai julgar algumas decisões da OMC, a aprovação do órgão aponta na direção correta.
Ao Brasil cabe agora superar sua tradicional lentidão nessa esfera de forma a ratificar o acordo ainda este ano. É o mínimo que se espera de um país que vem defendendo o multilateralismo e a liberalização comercial, teve papel ativo nas negociações do Gatt e pretende consolidar sua reinserção no cenário econômico mundial.

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