São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994 |
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Lina Bo Bardi analisa o design brasileiro
KATIA CANTON
Dificilmente. Afinal a arquiteta romana, naturalizada brasileira, fez do despojamento impetuoso sua grande genialidade. Publicado agora em forma de obra póstuma, pelo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, dois anos após a morte de Lina, o livro foi, na verdade, concebido por ela em 1980, com fotos de objetos artesanais produzidos no nordeste e textos dela e de outros nomes da inteligência nacional, como Jorge Amado, Glauber Rocha, Livio Xavier e Ariano Suassuna. Tudo costurado com indagações sobre a soberania da cultura popular versus uma atração autofágica do Brasil pelos modelos estrangeiros. Tudo temperado com um forte tom político, socialista. Quando pensou no projeto, fruto de sua profunda admiração pelo receptáculo de pobreza e criatividade que é o nordeste brasileiro, a própria Lina desacreditou de sua viabilidade. "Não adianta, tudo isso vai cair no vazio", afirmou. Mas o livro resistiu teimosamente. Assim como os artefatos da cultura popular resistem até hoje. Lina Bo Bardi define como "grossura" essa mesma produção do povo, de estética nem sempre digerível pelas classes mais abastadas. Grossura, para a arquiteta, é o que há de mais autenticamente brasileiro, rebelde e desvencilhado dos padrões que chegam de fora até nós, de maneira imperativa. Grossura, para ela, é a obra do Aleijadinho, antes da chegada dos europeus; o chapéu de couro do cangaceiro; os ex-votos de madeira; as cumbucas de barro pintadas com pó xadrez; colchas de retalho; colheres de pau. Ou um bule feito com lata de manteiga salgada. Para ela, esses elementos compunham a verdadeira essência do Brasil. Ao desfilar aos nossos olhos protótipos do que seriam objetos populares, Lina não desejava fazer uma apologia ao folclore. Ao contrário, criticava a visão do "folclore" como algo carimbado com a marca do paternalismo da chamada "alta cultura". Queria apenas nos oferecer o prazer bruto dos ícones que compõem, ainda agora, o Brasil popular. Livro: Tempos de Grossura: O Design no Impasse Autora: Lina Bo Bardi Lançamento: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi (78 páginas) Texto Anterior: Ação e inação têm importância igual Próximo Texto: Cabrita Reis quer preservar a vida na escultura Índice |
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