São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994
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Jessye Norman estréia hoje à noite no Rio

EVA JOORY
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

A soprano norte-americana Jessye Norman, 49, faz hoje à noite no teatro Municipal do Rio seu primeiro recital no Brasil acompanhada da pianista Ann Schein. Nos dias 9 e 12 ela se apresenta em São Paulo, no teatro Cultura Artística.
Segundo informou a Dell'Arte, empresa responsável pela vinda da soprano ao Brasil, a negociação para trazer Jessye Norman ao Brasil levou oito anos devido a problemas de agenda.
No sábado à tarde, Norman deu uma entrevista coletiva no Hotel Inter-Continental, onde está hospedada. Vestia calça branca e uma túnica estampada, cor creme. Disse que escolheu mostrar um programa variado para dar aos brasileiros uma idéia do seu trabalho. Incluiu árias, spirituals, canções francesas e valsas. A seguir leia trechos da entrevista:

Pergunta - Quando começou a se interessar por música?
Jessye Norman - Comecei a ouvir música ao mesmo tempo em que comecei a falar. Aos seis anos, não sei porquê, me apaixonei pela ópera. Aos dez, resolvi estudar piano e expandir assim o meu conhecimento musical.
Folha - O que gostaria de ter cantado e nunca cantou?
Norman - Acho que nada. Algumas músicas, eu esperei propositalmente até adquirir uma certa experiência para poder cantá-las. Eu sempre busco uma grande variedade no meu repertório, que vai da música barroca a Schõnberg, de Gershwin a Cole Porter. Quem sabe um dia eu cante algo brasileiro.
Pergunta - Como vê a popularização da ópera?
Norman - Isto se deve à televisão, que hoje transmite óperas. O muro que existia entre a ópera e as pessoas, que pensavam não ter preparo para entendê-la, foi derrubado. Ópera nada mais é do que uma história cantada, em vez de ser contada.
Pergunta - A senhora sofreu algum tipo de preconceito?
Norman - O que eu tenho a dizer sobre o racismo é que é um fato da vida. Não importa o quão talentosa, educada, ou habilidosa uma pessoa possa ser, o racismo existe. É preciso entender que se não fizermos nada contra o racismo, ele irá nos destruir.
Folha - A senhora se preocupa com moda? Quais são os seus estilistas favoritos?
Norman - É mais uma coisa prática. Gosto de me vestir com coisas bonitas, mas que sejam antes de tudo confortáveis. Tenho que usar um guarda-roupa que combine com meu modo de vida. Um dos meus estilistas preferidos era um israelense chamado Eliakim, que já morreu. Hoje, gosto de Bill Blass (americano) e Gianfranco Ferré (da maison Dior).
Folha - A senhora tem algum ritual antes de entrar no palco?
Norman - Sim. Eu chego no teatro três horas antes da apresentação. Preciso de silêncio para começar meu aquecimento e de tempo para me concentrar. Duas horas antes, verifico se tudo está em ordem no palco. Então começo a ensaiar. Quando canto, faço esforço em todos os níveis, físico, emocional e psíquico. Por isso, solidão e silêncio são fundamentais.

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