São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994
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Guerra bósnia paralisa o Ocidente

DO THE INDEPENDENT

A política do Ocidente em relação ao conflito na Bósnia-Herzegóvina parecia à beira do colapso no fim-de-semana, depois de uma semana de derrotas, subterfúgios e recriminações.
Tragédia e farsa se misturaram no encontro do Grupo de Contato, onde, horas depois de concordarem com novas propostas de paz, EUA, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha passaram a criticar uns aos outros.
No Conselho de Segurança da ONU, a Rússia usou seu poder de veto para barrar sanções contra os sérvios. A ONU e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) travaram uma guerra de comunicados sobre o uso de ataques aéreos na Bósnia. Enquanto isso, sérvios e muçulmanos rejeitaram novas propostas de paz.
Na frente de batalha, o Exército bósnio e os sérvios travaram ontem intensos combates em Velika Kladusa (noroeste da Bósnia).
Paul Risley, porta-voz das forças da ONU na região, disse que os sérvios bombardearam de maneira contínua o perímetro urbano de Velika Kladusa, tomada pelos muçulmanos há duas semanas.
O primeiro-ministro bósnio, Haris Silajdzic, acusou as forças de paz da ONU de dedicar-se mais à política do que à sua missão humanitária.
Charles Redman, enviado especial de Clinton, se encontrou com Radovan Karadzic, líder dos sérvios da Bósnia. Ele não obteve nenhuma concessão.
A política norte-americana para a Bósnia acaba de dar uma virada de 180 graus. Quando ficou evidente que ataques aéreos da Otan contra os sérvios não receberiam apoio europeu, Washington passou a jogar seu peso por uma solução negociada.
Mas o senador Bobo Dole, próximo líder da maioria republicana no Senado, pediu ontem um bombardeio contra os sérvios da Bósnia, para obrigá-los a negociarem.
O general britânico Michael Rose, comandante das forças da ONU em Sarajevo, pressionou pelo fim da presença aérea da Otan na Bósnia. Parece ter obtido sucesso, mas mas não consultou antes a liderança da Otan –e o resultado foi que o secretário-geral da organização, o belga Willy Claes, ficou parecendo um tolo.
A falta de um consenso sobre a Bósnia colocou a ONU à beira de retirar os capacetes azuis. A Otan já tem planos de deslocar para lá 20 mil soldados, entre eles tropas norte-americanas, para dar cobertura à eventual retirada das forças de paz das Nações Unidas.
Os sérvios soltaram ontem 53 dos cerca de 450 soldados da ONU que mantém como reféns.
Os ministros das Relações Exteriores de França e Reino Unido estiveram ontem em Belgrado (Sérvia), onde se reuniram com o presidente, Slobodan Milosevic. Milosevic se disse favorável à paz, mas há dúvidas sobre o seu poder de convencer os sérvios da Bósnia.
Com agências internacionais

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