São Paulo, terça-feira, 6 de dezembro de 1994
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PT não devolverá dinheiro a empreiteiras

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT de São Paulo ficou no meio do caminho na discussão sobre o fato de empreiteiras terem financiado 72% da campanha de José Dirceu ao governo do Estado: considerou um "erro político" aceitar as doações das construtoras, mas não vai devolver o dinheiro.
As empresas construtoras deram, em troca de bônus, pelo menos R$ 810 mil à campanha de Dirceu. Desse total, R$ 478 mil vieram da Norberto Odebrecht e outros R$ 215 mil da Ultratec, subsidiária da empreiteira OAS.
Em nota oficial, a Executiva do PT paulista reafirmou a legalidade das contribuições e a falta de contrapartida a oferecer aos doadores, habitualmente criticados pelo partido.
"O comportamento das empreiteiras têm demonstrado vários problemas em relação ao interesse público. Por isso consideramos um erro político ter aceito contribuições dessas empresas", diz trecho da nota da Executiva.
Na hora da votação sobre devolver ou não o dinheiro para reparar o "erro político", porém, quinze integrantes da Executiva votaram contra e apenas Misa Boito, vice-presidente do PT de São Paulo, ficou com a proposta de devolução dos recursos às empreiteiras.
Misa Boito é uma das líderes da corrente trotskista "O Trabalho". "Como não houve contrapartida, não há motivo para devolver", acha o presidente do PT paulista, o deputado federal eleito Arlindo Chinaglia.
O dirigente petista disse ainda que todos os contatos para arrecadar dinheiro foram feitos pela coordenação da campanha de Dirceu, com delegação de poderes da direção estadual.
O coordenador da campanha de Dirceu foi Cândido Vaccarezza, presidente do PT paulistano, mas Chinaglia recusou-se a fornecer o nome do responsável pela captação de dinheiro.
"A Executiva sabia que havia empresas doando, alguns membros sabiam que a Odebrecht estava no meio, mas não sabíamos do valor total da doação", disse Chinaglia.
O presidente do PT de São Paulo admitiu a existência de "constrangimento" no PT com a revelação de que 72% do arrecadado por Dirceu vieram dos cofres de empreiteiras.
"Teríamos uma postura de fariseus se houvesse a devolução do dinheiro. Pareceria que fizemos um ato condenável em todos os aspectos, o que não ocorreu", insistiu Chinaglia.
A Executiva nacional do PT, que também se reuniu ontem, constatou o "sentimento de setores da base do partido" constrangidos com a revelação de que empreiteiras financiaram campanhas petistas, incluindo aí a de Luiz Inácio Lula da Silva.
A constatação do desconforto foi feita pelo secretário-geral do PT, Gilberto Carvalho. "A maneira com que o debate está sendo conduzido está desgastando o partido, mas nós não abrimos mão da coerência", acha Carvalho.
Para ele, as doações foram legais e não significaram compromisso de o partido parar de fiscalizar licitações públicas envolvendo construtoras.
Para minorar o constrangimento, o PT nacional vai preparar um texto para debater formas alternativas de arrecadação de recursos.
O objetivo é tornar as campanhas eleitorais futuras da legenda menos dependentes dos recursos de empresários. "Mas na minha opinião devemos continuar nos relacionando com empresários", declarou Carvalho.

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