São Paulo, quarta-feira, 7 de dezembro de 1994
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A PARCERIA (1985-1990)

1. Fernando Collor de Mello e Paulo César Farias se encontram pela primeira vez em 1985, quando Collor se preparava para disputar o governo de Alagoas. PC, dono de uma empresa quase falida, a Tratoral, torna-se o tesoureiro da sua campanha. Em 1986, PC reencontra Cláudio Vieira, um amigo do seminário.
2. Collor assume o governo de Alagoas em 1987. Nesse mesmo ano, o Banco Central coloca PC na lista negra, que fica proibido de receber crédito agrícola. PC espalha pessoas de sua confiança no governo. Seu irmão Augusto Farias é nomeado secretário de Transportes. PC intermedeia um acordo de Collor com usineiros.
3. Collor sai candidato a presidente em 1989 e PC assume o controle do caixa de campanha. Exige contribuições elevadas dos empresários para evitar que Lula vencesse a eleição. Após a vitória, PC participa da montagem do governo. Seu grupo paga todas as despesas de hospedagem da equipe de Zélia em Brasília.
4. Collor assume em 15 de março. Luiz Romero Farias, irmão de PC, é nomeado secretário-executivo do Ministério da Saúde. Lafaiete Coutinho assume a Caixa Econômica Federal e depois o Banco do Brasil. PC também influi na nomeação de Marcelo Ribeiro, diretor da Tratex, para a Secretaria de Transportes.
5. Collor se recusa a deixar a Casa da Dinda para morar no Palácio da Alvorada. O esquema PC paga a reforma na residência, de US$ 2,5 milhões. Nos primeiros meses de governo, PC toma café-de-manhã com Collor todas as segundas-feiras. De março de 1990 a setembro de 1992, PC telefona 479 vezes para Collor.
6. Em abril de 90, PC é anistiado pelo Banco Central e sai da lista negra. Em maio, a secretária de Collor, Ana Acioli, recebe o primeiro cheque da EPC, firma de PC Farias. Durante o governo, PC também pagaria as contas da mulher, da ex-mulher, da irmã e até do mordomo de Collor.

A CONSOLIDAÇÃO DO ESQUEMA (1991-1992)
1. Com a extinção do cheque ao portador pelo Plano Collor, o esquema PC começa a utilizar cheques de correntistas falsos ("fantasmas") a partir de julho. Os correntistas "fantasmas" movimentaram pelo menos US$ 32,3 milhões.
2. No segundo semestre de 90, a EPC inicia a emissão de notas frias para empresas (Andrade Gutierrez, Votorantim, Norberto Odebrecht), levantando mais de US$ 15 milhões. As empresas pagavam propinas ao esquema PC para obter benefícios do governo. A Credicard chegou a dizer que sofreu extorsão.
3. PC monta um governo paralelo, do qual faziam parte Ruy Moura (economista ligado a Zélia), Giovanne Carlos de Mello (gerente das empresas de PC), Jorge Bandeira de Mello (sócio de PC na Brasil Jet), Guy de Longchamps (testa-de-ferro de PC no exterior) e Rosinete Melanias (secretária de PC).
4. Em agosto de 90, PC começa a armazenar num computador informações sobre as obras do governo, as liberações de verbas e o valor das propinas a serem cobradas, além de telefones de empreiteiras, órgãos federais e membros da equipe econômica. Uma das senhas usadas é Collor.
5. PC atua da campanha eleitoral de 90 em nome de Collor. Sebastião Curió recebe US$ 120 mil, que foram obtidos por PC junto à Mercedes Benz. Durante a campanha, o presidente da Petrobrás, Luiz Octávio da Motta Veiga, pede demissão e denuncia pressões de PC para conceder um empréstimo à Vasp.
6. Em fevereiro de 1991, Collor compra um terreno de PC. Em abril, compra uma Fiat Elba, com um cheque assinado por José Carlos Bomfim, um dos "fantasmas" do esquema PC. Em setembro, surgem denúncias de superfaturamento no Ministério da Saúde. Luiz Romero Farias é o secretário-executivo da pasta.

A INVESTIGAÇÃO E O PROCESSO (1992-1994)
1. Em maio de 92, Pedro Collor afirma que PC Farias é o testa-de-ferro de Collor. Segundo Pedro, 70% das propinas recolhidas por PC ficavam com Collor, e 30% com PC. Em junho, o Congresso instala uma CPI sobre PC. Takeshi Imai, empresário da área de saúde, é o primeiro a denunciar o esquema PC no governo.
2. O depoimento do motorista Eriberto Freire França revela vínculos de PC com o presidente. Em agosto, Cláudio Vieira diz que as despesas de Collor vieram de um empréstimo no Uruguai. A secretária da ASD, Sandra Fernandes, diz que o contrato (a "Operação Uruguai") é uma fraude.
3. O relatório da CPI conclui que Collor "recebeu vantagens econômicas indevidas". Collor é acusado de ter cometido crime de responsabilidade e crime comum. A OAB e a ABI entregam um pedido de impeachment ao presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, em 1º de setembro.
4. A Comissão Especial da Câmara aprova a admissibilidade do impeachment em 24 de setembro por 32 votos a um. No dia 29, a Câmara aprova a abertura do processo de impeachment por 441 votos a 38. Em 12 de novembro de 1992, o procurador Aristides Junqueira denuncia Collor ao STF por crime comum.
5. Collor é julgado no Senado em 29 de dezembro, após outra série de manobras para tentar adiar o julgamento. Ele renunciou logo após o início da sessão, às 9h34, para tentar escapar da pena de inelegibilidade por oito anos. Por 73 votos a oito, o Senado decide julgar Collor e o condena à inelegibilidade.
6. Collor recorre ao STF para anular a decisão. O recurso é julgado em 6 de dezembro de 1993, e termina empatado em quatro a quatro. No dia 16 de dezembro de 1993, três ministros do Superior Tribunal de Justiça, convocados para desempatar a votação, votam contra Collor. A ação por crime comum prossegue.

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