São Paulo, quarta-feira, 7 de dezembro de 1994
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'Três amigos' prometem abalar Hollywood

ANA MARIA BAHIANA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

O nascimento do que promete ser um dos maiores impérios da indústria de entretenimento aconteceu de forma quase inocente.
A união entre Steven Spielberg, o executivo Jeffrey Katzenberg e o empresário David Geffen começou com um telefonema vindo de Los Angeles, em uma tarde de agosto, para a casa de verão do diretor Robert Zemeckis em East Hampton.
Naquele momento, surgia uma megacompanhia que atuará nas áreas de cinema, TV, vídeo, música e multimídia, reunindo as fortunas pessoais de seus fundadores, que chegam a US$ 3 bilhões.
Zemeckis estava recebendo Spielberg, seu vizinho de veraneio. O telefonema era do sócio de Spielberg na cadeia de lanchonetes Divel –o então presidente dos estúdios Disney, Jeffrey Katzenberg.
A notícia que Katzenberg tinha para seu sócio era uma bomba de vários megatons hollywoodianos: "Estou fora da Disney", Katzenberg disse a Spielberg.
Para entender o impacto da notícia é preciso saber que, durante os últimos 17 anos, Katzenberg tinha sido o menino dourado da Disney, o executivo responsável pela virtual ressurreição da empresa, a mente por trás da retomada dos grandes filmes de animação.
A saída de Katzenberg –na verdade, sua demissão sumária– representava uma ruptura na indústria e o final de uma crise corporativa. Ele ambicionava o posto de vice-presidente da Walt Disney Company, vago desde abril com a morte de um executivo. Mas o "chairman" da companhia, Michael Eisner, acreditava que ele não tinha gabarito para tanto.
A crise escalou rapidamente ao longo do verão americano, até a tal tarde em meados de agosto, com a demissão fulminante –e o telefonema instantâneo para Spielberg, que convidou o colega para uma reunião em East Hampton.
Consta que tudo se resolveu numa conversa ultra-secreta, a bordo do veleiro de Zemeckis: em vez de procurar um novo emprego, Katzenberg queria fundar uma nova empresa. E contava com Spielberg para isso.
Spielberg, que sonha ter seu próprio estúdio desde que dirigiu seu primeiro filme, concordou imediatamente. Ele sugeriu um terceiro nome, um amigo comum, homem de excelentes conexões tanto no mundo do filme como do disco e dono de uma sorte extraordinária: David Geffen, o responsável pelo lançamento de astros pop de todo calibre.
O contrato entre os três foi assinado em meados de outubro num escritório de advocacia de Nova York e, na mesma tarde, Katzenberg, Spielberg e Geffen voaram para Los Angeles, a fim de anunciar a nova empresa numa coletiva convocada às pressas.
Mais uma vez, os acontecimentos pegaram a indústria de surpresa. O último grande estúdio fundado em Hollywood foi a Twentieth Century Fox, nos anos 40.
Ou seja, em quase 50 anos ninguém teve a ousadia de introduzir um novo jogador na grande peleja de poder e dinheiro de Hollywood. O impacto da reunião ainda não pode ser medido. Spielberg e Geffen, vértices criativos da trinca (a empresa ainda não tem nome nem sede), têm compromissos com outros estúdios e empresas.
O planejamento da empreitada prevê que apenas projetos novos serão tocados pelos três, usando –ao menos inicialmente– um bolsão de recursos financeiros advindos de suas fortunas pessoais.
"Sim, eu sei que sempre disse que jamais financiaria um projeto meu com meu próprio dinheiro", Spielberg disse aos jornalistas na coletiva. "Mas este caso é uma oportunidade que ocorre apenas uma vez na vida de uma pessoa."
"Recursos não nos faltam", afirmou Katzenberg. "Sejam nossos próprios fundos, seja através de parcerias estratégicas com outras empresas, temos amplos recursos para bancar os projetos."
O plano da trinca, a médio e longo prazo, é ter um estúdio com recursos, espaços e equipamentos para a produção de qualquer tipo de entretenimento, de filmes a discos, video games e séries de TV.
Na verdade, a TV representa um ponto vital na estratégia da empresa –o primeiro acordo fechado por Spielberg, Katzenberg e Geffen foi com a rede ABC, na semana passada, para a criação de uma divisão de produtos televisivos.
Outra aliança importantíssima está sendo negociada desde o último fim-de-semana: Spielberg, Geffen e Katzenberg estão prestes a colocar Bill Gates, fundador da Microsoft –a maior empresa de informática do mundo– no time, possivelmente como o homem responsável por multimídia e tecnologia de ponta.
O plano de vôo é ambiciosíssimo. "Queremos ser uma casa onde mentes criativas de todos os campos se sintam inteiramente à vontade", disse Spielberg.
"Os grandes estúdios foram fundados há quase um século e sobreviveram porque souberam acompanhar as mudanças. Nós queremos ser um estúdio para o século 21", concluiu o cineasta.

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