São Paulo, quinta-feira, 8 de dezembro de 1994
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Prudência realista

Foi prudente a decisão de renovar, por pelo menos mais um mês, o convênio entre os governos federal e do Rio de Janeiro que permite a participação das Forças Armadas no combate ao crime.
Seria no mínimo temerário retirar o Exército das ruas no próximo dia 30 e abandonar assim à própria sorte o futuro governador do Rio, Marcello Alencar (PSDB), a dois dias de sua posse. É evidente que o próximo mandatário fluminense vai precisar de algum fôlego e muito apoio na árdua tarefa de reestruturar as polícias do Estado.
O que as Forças Armadas fizeram até agora foi apenas demonstrar que o poder público é capaz de chegar até as favelas e impor a ordem. Isso, por certo, transmitiu aos cariocas uma sensação de segurança e constitui passo importante para que o Estado consiga readquirir o controle sobre os morros.
Esse efeito psicológico, porém, tende a ser efêmero e os generais sabem disso. Temem, acertadamente, um desgaste da imagem da instituição quando a população notar que o policiamento ostensivo pela tropa é um paliativo emergencial, incapaz de resolver de forma duradoura a questão da criminalidade.
O convênio acertado entre Alencar e o Comando Militar do Leste para vigorar no próximo ano parece mesmo mais realista do que o atual, ao dar maior peso à questão da reestruturação das polícias.
Trata-se, sem dúvida, de uma abordagem mais objetiva e realista do problema da criminalidade do Rio. É evidente que as Forças Armadas não se devem tornar uma grande delegacia de entorpecentes. Qualquer solução não-emergencial passa necessariamente pela construção de um aparato policial menos corrupto e mais eficiente.
Também causam boa impressão os esforços do comando das operações no Rio para tentar evitar a ocorrência de novos episódios de abuso de autoridade. A iniciativa da Marinha de levar um ouvidor para atender a eventuais queixas da população durante a ação, ontem, no complexo da Cachoeirinha, se não garante que arbitrariedades não venham a ser cometidas, revela que o comando está preocupado com o problema. E isso é salutar.
Não se pode admitir em hipótese nenhuma que, a pretexto de combater o crime, agentes da lei se tornem, eles próprios, autores de procedimentos contrários aos direitos e garantias fundamentais.

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