São Paulo, sexta-feira, 9 de dezembro de 1994
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EUA querem discutir com Brasil lei contra lavagem de dinheiro

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

O presidente Itamar Franco e o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso vão enfrentar em Miami um inesperada e delicada questão, a da lavagem de dinheiro proveniente do crime organizado e/ou da evasão de impostos.
FHC desembarca hoje, às 12h35 (9h35 em Brasília), e Itamar chega meia-hora depois, para participarem da Cúpula das Américas, o encontro dos 34 chefes de governos do continente.
O tema do dinheiro sujo foi lançado ontem, em provocativo artigo do secretário do Tesouro norte-americano, Lloyd Bentsen, para o jornal "USA Today".
Bentsen acha que todos os países (e cita especificamente os 34 reunidos em Miami) "compartilham a responsabilidade de manter seus sistemas financeiros saudáveis e livres da mancha criminosa"
Mas o secretário do Tesouro não se limita à pregação retórica. Garante que vai propor aos governantes americanos uma uniformização das leis referentes à lavagem de dinheiro.
Bentsen cita ainda resolução de recente conferência internacional sobre crime organizado, promovida pelas Nações Unidas em Nápoles (Itália), a qual pede que todos os países eliminem o sigilo bancário quando há suspeita de ilegalidade.
É um assunto delicado por envolver, de um lado, o tema-tabu do sigilo bancário e, do outro, uma cooperação internacional que interfere com a soberania de cada país.
Não é a única má notícia que espera o atual e o futuro mandatários brasileiros.
O Federal Reserve, o Banco Central norte-americano, emite novos sinais de que voltará a aumentar os juros, para conter o forte crescimento da economia.
Alta de juros nos Estados Unidos significa menor ingresso de capitais no Brasil e no resto da América Latina, como, de resto, já aconteceu este ano.
Como o futuro governo aposta alto na obtenção de recursos externos para alavancar seus programas de desenvolvimento, essa é uma má notícia, embora até certo ponto previsível.
Completa o cenário o fato de que o assunto que mais interessa aos países latino-americanos, Brasil inclusive, que é a intensificação do comércio com os Estados Unidos não goza de idêntica prioridade entre os norte-americanos.
Foi necessária uma mini-rebelião dos latinos, na qual o Brasil teve parte ativa, para que o tema comércio voltasse à pauta da Cúpula.
Voltou com tanta ênfase retórica que se trabalha com a idéia de fixar uma data (2005 ou 2006) para o início da Afta (Área Americana de Livre Comércio), que englobaria todos os países americanos.
Mas é pouco provável que a Afta sai da retórica para a prática.
Nesse ponto específico, não chega a ser uma inquietação grave para a diplomacia brasileira, no atual como no futuro governo.
FHC já definiu a vocação brasileira como a de um "global trader" (comerciante global). Não é portanto prioritário para o governo brasileiro atar-se a um esforço comercial com um bloco que seria dominado fortemente pelos Estados Unidos.

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