São Paulo, sexta-feira, 9 de dezembro de 1994
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Papo carioca disfarçava a luta contra três inimigos silenciosos

JANIO DE FREITAS
DO CONSELHO EDITORIAL

A disposição do Tom para o papo carioca, para o riso, para o chope servido como se fora o sumo íntimo de uma deusa, compunha uma aparência enganadora. Tão enganadora, que durou até sua primeira parada cardíaca às 5h da manhã de ontem em Nova York. Sob a aparência, Tom guardava três inimigos silenciosos: obstrução de coronária, obstrução da carótida e câncer incipiente na bexiga.
Foi sua a decisão de começar o combate pela bexiga. Quando, há perto de dois meses, esteve para isso no Mount Sinai Hospital, os exames preparatórios da cirurgia descobriram as duas obstruções. Ficou acertado que, recuperado da operação, faria o desentupimento coronariano e depois o da carótida. Antes destas duas etapas, porém, Tom decidiu voltar ao Rio para acertar algumas coisas, mas deixando marcado o reencontro com os médicos para a semana passada.
Outra vez coube a Tom, como é praxe nos Estados Unidos, a escolha entre as hipóteses apresentadas pelos médicos. Outra vez, Tom preferiu começar pela bexiga, com a prevista segunda cirurgia, já que as obstruções não o incomodavam. Viriam em seguida à operação, feita na terça-feira. E tão bem sucedida que o cirurgião Warren Weber estava prestes a liberá-lo para os cardiologistas. Quando aconteceu a repentina parada cardíaca, Tom foi levado prontamente para a UTI e logo ressuscitado. Mas, surpreendente como a primeira sobreveio outra. Irreversível.
Papo carioca. Foi o último nosso. Não sei por quê, Tom começou a relembrar um mau momento em Nova York. O frio lá era terrível. E Tom, já com um velho problema de irrigação sanguínea nos pés, foi se sentindo cada vez pior, mas sempre achando que era coisa passageira. Até que não dava mais para evitar o médico, ficar em pé estava difícil. O médico levou um susto: "Um pouco mais e você perdia a perna, com gangrena. Se não morresse antes de perdê-la".
Não foi a única armadilha novaiorquina. Proibido de ficar nos Estados Unidos durante o inverno, por causa dos pés, Tom cuidou de voltar lá na meia-estação. Encontrou tempo ótimo, até acalorado. De repente, a temperatura passou a cair a pique, entrou um frio daqueles. Tom não podia vir logo para o Rio. Revestiu os pés com todos os agasalhos possíveis: "Aí eu voltei a me ver com uma cintura fina, esbelta. Com tantas meias, eu estava mais grosso nas canelas do que na cintura". Então, foram os pulmões: gripe mortífera, febre altíssima, ameaça de pneumonia.
A conclusão era inevitável: "Daqui por diante, Tom, você faça o favor de chegar em Nova York, recolher o direito autoral e tomar o avião de volta".
"É pau, é pedra, é o fim do caminho".

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