São Paulo, sexta-feira, 9 de dezembro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Tráfico no PR adota tática carioca
JOEL SAMPAIO
Segundo os policiais, as favelas da Vila Pinto e do Parolin, duas das mais antigas da cidade, e a de Trindade, servem de esconderijo e ilustram a "importação" das práticas dos traficantes cariocas. Nas três favelas, os responsáveis pelo tráfico colocaram "olheiros" em pontos estratégicos da favela e utilizam o "aviãozinho" para buscar a droga com um intermediário e entregar o produto ao comprador. A função do "aviãozinho" é exercida geralmente por menores para evitar que os traficantes sejam presos pela polícia. Como no Rio, a comunicação entre os traficantes é feita por assobios e fogos de artifícios que servem para avisar sobre a chegada da polícia e da droga. O comandante da Polícia de Choque da PM, major Justino Henrique Sampaio Filho, disse que a disseminação das táticas do crime organizado é hoje um fenômeno nacional. "É só assistir a TV, que todo dia traz o 'modus operandi' das quadrilhas", afirmou Sampaio. O comandante do Comando de Policiamento da Capital, coronel Sérgio Malucelli, diz que mantém sob controle o avanço da violência, mas não ignora o desafio da "importação" das práticas do crime organizado. Ele cita como exemplo de controle da violência a desarticulação recente de quadrilhas de assalto a banco vindas de outros Estados. "Na época em que passou a novela 'Sonho Meu' (da TV Globo, ambientada em Curitiba) foi uma loucura o que veio de bandido de fora", reforça o tenente da PM, Dorian Cavalheiro. Cavalheiro participou neste ano da prisão de três quadrilhas de assaltantes vindas de São Paulo. "Um dos assaltantes chegou a me dizer que veio porque tinham contado para ele que aqui era um paraíso", disse o tenente. A Agência Folha acompanhou uma ronda noturna da PM pelas favelas de Curitiba. Durante a ronda foi possível constatar as táticas usadas pelos supostos traficantes nas favelas. Na favela da Trindade (divisa entre os municípios de Curitiba e Pinhais), o tráfico é feito em cima dos trilhos da Rede Ferroviária. A linha ferroviária fica em um nível mais alto que a favela e permite aos traficantes observar de longe a chegada da polícia. A chegada do carro da Rone (Ronda Ostensiva de Natureza Especial) à linha do trem foi saudada com um festival de assobios e com a correria dos traficantes, que desapareceram rapidamente. "Aqui basta um assobio e some todo mundo", afirma Cavalheiro, que participou da operação. O tenente disse, entretanto, que a cidade não tem traficantes famosos ou atuando como protetores das comunidades das favelas. "Nisto o tráfico aqui é diferente do tráfico no Rio. Aqui eles não enfrentam a polícia porque sabem que levam a pior", diz Cavalheiro. Favelas crescem O número de favelas e invasões de terrenos em Curitiba teve um crescimento explosivo durante a década de 80. Dados históricos levantados pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba mostram que em 90 a cidade tinha 209 favelas, com 24.578 domicílios. Em 79, eram 46 favelas, com 6.067 domicílios. O número de favelas de 90 é dez vezes maior que o de 1971, quando foi iniciada a pesquisa. Texto Anterior: Dias Gomes vai operar coração em janeiro; 1,1; Três são hospitalizadas por uso de bronzeador; Quatro morrem em queda de avião no MS; Fazendeiro é acusado de matar a mulher Próximo Texto: Resultados geram polêmica Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |