São Paulo, sexta-feira, 9 de dezembro de 1994 |
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Se todos fossem iguais a você
LUÍS NASSIF
Os jornalistas se esfalfam diariamente quebrando pedras, cometendo ousadias e perseguindo furos, pela compensação modesta de sobrevida de alguns anos ou, no máximo, de algumas décadas, na memória restrita de seu público. Por isso mesmo, a figura do músico popular provoca tanto encantamento. Não por perpetuar-se no imaginário popular como peça de museu, mas por manter-se viva, como fonte permanente de emoção. Nos anos 20, com apenas algumas horas de inspiração o maestro Pedro de Sá Pereira compôs Chuá Chuá e conquistou a imortalidade, enquanto centenas de ricaços inescrupulosos, intelectuais pedantes, parlamentares emplumados, magistrados solenes, jornalistas deslumbrados da época desapareciam na penumbra do tempo. Um a um, os compositores populares comportaram-se como pedreiros diligentes, erguendo tijolo a tijolo os fundamentos da nacionalidade. E o que não dizer dos maiores? Passaram as teorias raciais, as crises econômicas, as quarteladas e a repressão policial, mas ficou a música de Pixinguinha. Desapareceram os barões do café, a casta canavieira e a elite mercantil carioca do início do século, mas ficou Villa Lobos. Ontem desapareceu a última pessoa da santíssima trindade musical brasileira do século, o maestro Tom Jobim. Durante quatro décadas ele deu mais ao Brasil do que sua música eterna. Com seu refinamento harmônico, seu rigor estético, sua idoneidade musical, com a clareza geométrica de suas composições ele ajudou a alavancar uma nova estética e a projetar para o mundo a imagem de um país moderno. À imagem do brasileiro desorganizado, alegre, mas irresponsável, ele contrapunha o rigor detalhista de sua música. A um nacionalismo envergonhado e submisso, sua música tão internacional e tão brasileira. No momento em que o país ambiciona a integração competitiva, à conquista dos mercados mundiais sem abdicar de suas características culturais, quando a cidadania amadurece e reconquista-se a capacidade de sonhar e de inovar, Tom Jobim projeta-se como símbolo maior da nação. Texto Anterior: Morgan e Warburg devem se unir Próximo Texto: IGP fecha novembro em 2,47% ;IBGE Índice |
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