São Paulo, sexta-feira, 9 de dezembro de 1994
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Decadência

SÍLVIO LANCELLOTTI

Como invariavelmente faço nas quintas-feiras, quando há rodada de meio-de-semana na Europa, telefonei ontem a um amigo jornalista de Turim, Itália, para me informar sobre os detalhes dos interclubes do continente.
Obviamente, ficou no Milan o tema central da conversação. Vi o jogo pela TVA-Esportes. O Milan bateu o Casino Salzlburgo, 1 a 0, fora de casa, e no sufoco e no quase milagre passou às quartas-de-final da Copa dos Campeões.
De novo, jogou muito mal o time de Fabio Capello, um treinador ostensivamente em deságio com o espírito de seu elenco. Capello escala, substitui –mas não consegue fazer com que o time jogue ao seu estilo, na cadência e no toque.
O Milan ganhou numa falha do arqueiro Otto Konrad e num lampejo de oportunismo do exausto e decadente Daniele Massaro. Depois, precisou depender da elasticidade e do senso de colocação do seu goleiro corajoso, Rossi.
Houve minúcias do prélio, claro, que as câmeras não exibiram. Relatou o meu amigo que Baresi já não grita tanto com os companheiros como costumava: "Franco anda de cabeça baixa, como se jogar não lhe interessasse mais".
Também quase não se entendem o volante francês Marcel Desailly e o meia sérvio Dejan Savicevic, em constantes xingamentos nos seus idiomas nativos, para a irritação de veteranos mais educados, como o meia Roberto Donadoni.
Além, disso, detalhe crucial, no banco de reservas já não aparece o apoio do grande catalisador da união do elenco nas temporadas de apogeu do Milan. O "team manager" Silvano Ramaccioni parece sem função, calado e desenxabido.
O Milan, de todo modo, sobreviveu no torneio. Para a alegria do meu correspondente particular, das 24 agremiações que se qualificaram às quartas dos três certames da Europa, a Copa dos Campeões, a Recopa e a Copa da Uefa, cinco são italianas: "Das espanholas, continua somente o Barcelona".
No final de nosso papo, coube a mim comentar os últimos desdobramentos do Campeonato Brasileiro. Quando falei do problema causado pela interdição do estádio do Morumbi e da realização de um espetáculo da Xuxa no Pacaembu, o colega me cobrou, obviamente, a transferência do show para algum outro lugar.
Impossível, respondi, foi marcado com quase um ano de antecedência. Deveria ter-me calado. Escutei aquilo que não queria: "Vocês precisam, isso sim, é fazer tabelas com antecedência".

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