São Paulo, sábado, 10 de dezembro de 1994
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País demora para informar

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

O primeiro relato oficial sobre a tragédia de Karamay saiu vinte horas depois do incêndio. O Partido Comunista Chinês admitiu aumentar a quota de "más notícias" na imprensa, mas ainda hesita no momento de respeitar a atual velocidade da informação.
O PC solta as amarras da economia e traz o capitalismo para "livrar o país de sua pobreza milenar".
Mas fica cada vez mais difícil abrir a economia e manter fechada a política. Na imprensa rigidamente controlada pipocam algumas tímidas mudanças, por exemplo no antigo conceito comunista de que jornal existe só para dar notícia favorável ao governo.
Foi o prefeito de Pequim, Chen Xitong, quem defendeu a idéia de se elevar a quota de "más notícias" nas páginas de, por exemplo, o "Diário do Povo", porta-voz do PC.
Segundo Chen, o excesso de "boas notícias" impedia o país de ter uma "visão acertada" das mudanças que empurram a China para a provável condição de dona da maior economia do mundo no próximo século.
Mas a linha oficial do PC ainda se mostra insensível diante de uma tragédia como a de Karamay. Até as 20h30 de ontem (horário local, 10h30 em Brasília), a agência de notícias "Xinhua" despachou seis parágrafos sobre o incêndio.
O serviço em inglês da Rádio China Internacional emitiu ainda mais frieza. Preferia abrir boletins com informações sobre política chinesa para comércio internacional, sobre conflitos na Rússia ou na Bósnia.
As crianças, vítimas em Karamay, estavam perdidas no meio da transmissão.
Em julho, as enchentes que castigaram o norte e o centro da China comoveram os editores do oficial "China Daily". Foi para a primeira página, ao estampar cem mortes.
Mas a tragédia da discoteca de Fuxin, por exemplo, recebeu apenas uma notinha discreta no "China Daily". E fora da primeira página.
(JS)

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