São Paulo, sábado, 10 de dezembro de 1994
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Vento a favor

Os últimos dias foram decisivos na definição dos rumos da política de estabilização. Houve afinal novidades significativas em várias frentes. A equipe econômica foi por fim confirmada: Arida no Banco Central, Bacha no BNDES, Malan na Fazenda e Gustavo Franco pilotando a política cambial.
Foi também marcante –e bastante rápida– a mudança em relação às perspectivas da inflação. Já se fala numa alta de até 2% em dezembro, abaixo portanto do patamar de 3% que parecia irredutível até três semanas atrás. Essa alteração está ocorrendo porque passou o impacto maior da entressafra agrícola e da seca. A cesta básica, que ameaçava, passou a exibir um comportamento mais estável, com tendência à baixa. O Banco Central sancionou essa mudança nas expectativas de inflação e reduziu as taxas de juros nominais.
Mais ainda, houve avanços importantes no campo da regulamentação. O BC aliviou algumas restrições que incidiam sobre os fundos de commodities e abriu espaço tanto para o financiamento da safra agrícola como para o ajuste dos bancos estaduais.
O atual presidente do BC, Pedro Malan, insistiu no caráter "sagrado" das cadernetas de poupança e descartou mudanças casuísticas na TR. Ao mesmo tempo, apertou o cerco contra as alternativas de expansão do crédito bancário, numa ofensiva para evitar qualquer indício de excesso de demanda às vésperas do Natal. O Banco Central deu também demonstrações de força nos mercados de câmbio, evitando a desvalorização do real.
O cenário é, portanto, favorável ao plano, do ponto de vista da inflação corrente, da reafirmação da equipe econômica, da agilidade do Banco Central e da estabilidade cambial. O vento a favor, entretanto, também tem seus perigos ocultos. Pode levar o timoneiro a crer que a embarcação alcançará espontânea e suavemente seu destino.
No caso da economia brasileira, continua no ar um sentimento de que o vento que favorece o plano pode trazer também alguma tempestade. No caso dos bancos estaduais, por exemplo, faz-se evidente que são urgentes medidas mais contundentes e definitivas, em vez de paliativos. Os contornos do ajuste fiscal, imprescindível, são ainda incertos. E o câmbio, na prática um sistema de "bandas", carece de diretrizes objetivas e transparentes.
Tudo ainda depende, demais até, de o comandante conseguir usar o vento para seguir no rumo certo.

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