São Paulo, sábado, 10 de dezembro de 1994
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Soma de condições favoráveis

HÉLIO ZYLBERSTAJN

O novo governo assumirá em meio a condições muito favoráveis. Para começar, no front político, terá maioria parlamentar que lhe assegurará os votos necessários para a implementação de políticas.
Uma vez no poder, Fernando Henrique poderá sinalizar convincentemente que está comprometido com as tão necessárias reformas estruturais. Uma mensagem ao Congresso (que, aliás, já está anunciada para 15 de fevereiro) marcará a posição do governo e o início de uma reforma da Constituição.
Portanto, do lado institucional e político a futura administração tem todas as condições para alimentar expectativas positivas em relação à estabilização.
Na esfera econômica, as condições também são muito favoráveis. No âmbito fiscal, o Plano Real trouxe ganhos à arrecadação. O temor de que a perda do imposto inflacionário desorganizasse mais ainda as contas públicas não se consumou.
O equilíbrio de caixa se manteve. É verdade que os gastos também se elevaram e que há um déficit potencial para 1995, mas o governo terá diversos mecanismos para evitá-lo.
Para muitos o grande desafio virá do lado dos salários, que estão atrelados ao IPC-r, até a primeira data-base depois de junho/94.
Na verdade, porém, o impacto dos salários já se deu, em grande parte. Para as categorias com data-base entre julho e dezembro, a incorporação compulsória do IPC-r já ocorreu. As demais conseguiram antecipações.
Isso tudo significa que não haverá um "choque" salarial. O crescimento dos salários tem sido gradual e está sendo acompanhado de ganhos na produtividade e na utilização da capacidade instalada, sem repasse aos preços.
Para completar, a Justiça do Trabalho tem uma posição muito favorável ao Plano Real, o que não ocorreu nas tentativas anteriores de estabilização.
Não nos esqueçamos que a nova safra agrícola será colhida no primeiro semestre, contribuindo para estabilizar o custo de vida.
Todos esses ingredientes não são hipóteses, são fatos. O cenário aqui construído tem uma grande probabilidade de se concretizar. Tudo isso somado –e não é pouco– dá ao governo que entra condições muito favoráveis para convencer os agentes econômicos de que a estabilização é duradoura e de que a desindexação é possível.
Não é otimismo exagerado acreditar que o governo terá condições para desindexar rapidamente a economia.

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