São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 1994
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Maestro bebia sem dar vexame

MARIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

O compositor Tom Jobim foi um "grande copo", mas não costumava dar vexame. É o que disseram anteontem garçons que o acompanharam por quase 30 anos na noite da zona sul do Rio.
"Entre 1966 e 1970, tomava sempre chope", contou o garçom Arlindo Costa de Faria, 54, há 31 anos no bar Garota de Ipanema.
Faria trabalhava no bar quando ele ainda se chamava Veloso, na esquina das ruas Prudente de Moraes e Montenegro, em Ipanema.
Depois, graças à música, o bar mudou de nome. Com a morte do letrista da música, Vinicius de Moraes, a rua Montenegro recebeu seu nome.
"Tom bebia pelo menos uns dez copos de chope por dia", lembra o garçom. "Mas, quando ficava alto, saía tranquilamente, pegava seu carro e só voltava no dia seguinte para pagar."
A última vez que Faria viu um de seus dois clientes mais famosos –o outro era Vinicius– foi há quatro meses. "Ele estava gravando um programa na praia e fui servir um chope para ele."
O movimento aumentou anteontem no Garota de Ipanema, de acordo com os garçons. Pessoas foram ao local para conhecer ou rever o bar onde Jobim conversava, bebia e compunha.
"Estou há 20 anos morando em Vitória (ES) e quis mostrar às minhas filhas o bar do tempo em que o Rio era mais romântico", disse a carioca Vânia Reis, 46.
Ela levou as filhas Paola, 17, e Letícia, 15, ao bar. "As músicas do Tom eternizaram um Rio de amor e paz que acabou."
No bar e na praia próxima, o posto nove de Ipanema, o vendedor ambulante Antônio Augusto dos Santos vendeu 40 camisetas estampadas com uma parte da partitura de "Garota de Ipanema". Cada uma foi vendida por R$ 8,00.
Jobim frequentava mais o bar na década de 60. Sua última cidadela carioca foi a churrascaria Plataforma, no Leblon (zona sul).
"Só se falou no Tom aqui hoje", contou a maître Raimundo Nonato, o Ratinho. Ele conhecia Jobim desde os anos 70, quando trabalhava na churrascaria Carreta.
"Tanto naquela época como agora, se ele bebia muito e via que a coisa ia pegar, levantava e ia embora para casa."
Quando o caminhão dos Bombeiros com o caixão de Jobim passou em frente à Plataforma, Ratinho, os outros garçons e todos os clientes foram para a calçada se despedir. A maioria chorou.

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