São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 1994
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Inflação e crescimento são os desafios de FHC

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, e seu ministro da Fazenda, Pedro Malan, têm dois caminhos para tocar a política econômica. Um, e o mais provável, é aprofundar o Plano Real na sua ortodoxia, considerando o combate à inflação a prioridade um.
Outro caminho, e que atenderia a sugestões de setores do PSDB, de empresários e lideranças sindicais, é deixar o Plano Real em banho-maria e adotar políticas de crescimento e desenvolvimento da indústria local.
A alternativa tem a ver com o perfil do novo governo. A criação de um super-ministério do Desenvolvimento, por exemplo, sinalizaria na direção do segundo caminho.
Os defensores dos dois caminhos concordam no médio e no longo prazo: trata-se de fazer o grande ajuste das contas públicas e a reforma modernizante da economia brasileira.
Só que isso demora. No mínimo um ano para ser iniciada e chegar a um nível tal que possa ser considerada duradoura. A questão, portanto, é como tocar a política econômica até lá.
Para a equipe econômica do real, montada por FHC quando ministro da Fazenda, o caminho é aprofundar (ou radicalizar) nas medidas já postas em vigor.
Sua teoria diz que reduzir a inflação para os atuais 2% a 3% ao mês foi um sucesso, mas insuficiente. Os membros da equipe acham que é possível e necessário reduzí-la a níveis de 1% ao mês, sem ficar esperando os resultados do ajuste fiscal.
Para isso, propõem eliminar o que resta de indexação (Ufir, que cai em janeiro, IPC-r e TR), manter os juros altos o suficiente para conter consumo e fuga de dinheiro para ativos reais, e manter o dólar barato e as importações estimuladas.
A outra tese considera que os níveis atuais de inflação já são razoáveis para o país, de modo que o governo poderia se ocupar mais do crescimento imediato, enquanto se aguarda a realização do ajuste fiscal.
Em especial, os defensores desta tese entendem que o governo poderia compensar setores que sofreram com o programa de estabilização, como a indústria local, exposta a uma dura concorrência com os importados.
Assim, o caminho seria não encerrar o Plano Real, mas não avançar, e fazer algumas correções. Entre estas, promover um aumento nas cotações do dólar, cessar aí a abertura, reduzir os juros mais rapidamente e arranjar recursos subsidiados para certos setores econômicos.
Os dois lados dizem, em público, que as divergências são táticas, pequenas. Mas, em conversas reservadas, admitem que se trata de escolher entre caminhos excludentes.

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