São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 1994 |
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Muito cedo para amar
MOACYR SCLIAR Com muita dificuldade –nenhuma das duas tinha sequer o curso primário- elas percorriam a notícia no jornal. Quando terminaram a hesitante leitura, ficaram um instante em silêncio.– Não sei, não –disse por fim a mais velha, Rosa, de 12 anos– mas acho que o juiz tem razão. Quinze anos não é idade para casar. – Você acha mesmo? –Maria que tinha 11 anos, respeitava muito a opinião da mais velha. – Acho. Nesta idade, uma moça ainda não sabe o que é bom para ela. Precisa amadurecer, você entende? E depois tem a diferença de idade. O noivo está com 37 anos. Você já pensou? Quando ele for um senhor de idade, ela ainda será uma mulher jovem. E isto pode trazer problemas. O juiz sabe disto. Por isso não permitiu o casamento. Fez ele muito bem. Esse pessoal não tem cabeça. Maria ficou em silêncio. Mas pelo jeito não tinha concordado muito com a opinião da amiga. Que notou. – Fale. Você quer dizer alguma coisa. Fale, diga logo. Maria hesitava ainda. – É que... – Fala logo! Desembucha! – É que casamento é tão bonito, você não acha? Muito vermelha, falava agora depressa, a voz entrecortada de excitação. – Eu sempre me imagino casando, sabe? Numa igreja, com véu, grinalda, vestido branco bem bonito. O meu noivo, um homem jovem, elegante. E depois a festa, num salão enorme, como esses que a gente vê em filme. Nós dançando a valsa... Coisa linda, muito linda. Eu sei que é sonho, mas bem que eu gostaria. Rosa não disse nada. Abraçou-a em silêncio. Dona Teresa entrou no quarto, irritada. – Vocês ainda estão aí? Os fregueses estão esperando, vagabundas. Vamos logo! Elas se levantaram e foram. Não é fácil a vida das jovens prostitutas. Texto Anterior: Vovôs fazem pedidos a Noel Próximo Texto: Velejadores viajam 12 mil km dos EUA a SP Índice |
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