São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 1994
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Afinal o que desejam as lésbicas?

JESSICA BENJAMIN
DO "THE NEW YORK TIMES BOOK REVIEW"

A maioria dos psicanalistas tem notado as mudanças promovidas pelo feminismo, e muito deles rejeitam as problemáticas asserções de Freud sobre as mulheres.
Resta uma lacuna entre o pensamento psicanalítico profissional e as entusiásticas e desregradas especulações do pensamento feminista.
Muitos psicanalistas importantes continuam a tolerar e até defender a noção de que a homossexualidade é uma doença. Pensadores feministas foram capazes de rejeitar a equação entre heterossexualidade e normalidade. Com poucas exceções, as arestas radicais do pensamento psicanalítico sobre a sexualidade são habitadas pelos psicanalistas, mas pelos estudiosos feministas.
"The Practice of Love" ("A Prática do Amor"), de Teresa de Lauretis, professora de história da consciência na Universidade da Califórnia, Santa Cruz, constrói uma ponte entre a psicanálise freudiana e o pensamento feminista radical.
Em lugar de rejeitar a idéia de perversão de Freud, De Lauretis se reapropria dela, para que "perverso signifique não o patológico, mas o não-heterossexual". "The Practice of Love" tem como meta descrever os componentes da fantasia lésbica.
É "a outra mulher" –e não a mãe– que é, para De Lauretis, o verdadeiro objeto do desejo lésbico. Poderíamos entender esta outra mulher como a filha ideal, com um corpo feminino ideal.
Este objeto perdido do desejo encontra seu correspondente no fetichismo das roupas e gestos masculinos, não porque roupas masculinas representem o falo, mas porque em nossa tradição cultural a masculinidade sozinha conota o desejo pelo corpo feminino. Com esta distinção, De Lauretis preserva o fetiche, ao mesmo tempo que descarta o falo.
A sexualidade lésbica, argumenta, não se refere a um retorno a uma mãe pré-edipiana. De Lauretis mostra como a homossexualidade satisfaz as condições que a psicanálise estabeleceu para uma passagem bem-sucedida através do complexo de Édipo, da passividade sexual à sexualidade genital ativa. Porém, já que de Lauretis está falando em termos freudianos, este quadro inclui aceitar a função do pai, do falo e da castração. O que isso significa para uma menina, especialmente lésbica?
Mas já que De Lauretis fala em termos freudianos, este cenário inclui a aceitação da funcção do pai e de seu falo, assim como a ameaça de castração. Mas o que isso pode significar para uma menina, especialmente para uma lésbica? Esta questão tem sido uma pedra no sapato das mulheres desde que Freud sugeriu pela primeira vez que as meninas já são "castradas", já que não têm pênis, e aquelas que negam sua falta sofrem de um complexo de masculinidade.
"The Practice of Love" deverá estimular uma reconsideração da "perversão" e da construção da fantasia sexual. A iluminação das fantasias que tornam o desejo lésbico característico irá necessariamente revelar a nossa compreensão de toda a sexualidade.

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