São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 1994
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Males que vêm para bem

Males que vêm para bem

Há males que vêm para bem, diz o ditado. A opção embutida no Plano Real de desvalorizar o dólar, abrir mais a economia e até mesmo gerar um pequeno déficit no comércio exterior parece enquadrar-se à perfeição nesse caso.
No momento atual, o risco maior é o de volta da inflação. É indiscutível que, para consolidar a estabilização, uma abertura crescente da economia pode ajudar. Afinal, estabilidade é sinônimo de melhoria no poder aquisitivo. Mas se a economia não tem como atender à nova demanda, passa a ser necessário importar mais.
Numa economia estabilizada –algo que a brasileira ainda não é– e com crescimento, o aumento das importações visa a acomodar pressões, não a "desindustrializar". Não se trata de substituir o produtor nacional pelo estrangeiro, embora esse risco exista, mas de somar esforços para que a distribuição de renda prossiga.
Entretanto, mesmo no contexto de uma abertura maior às importações pode-se duvidar da tendência ao déficit. Isso porque o mercado internacional encontra-se aquecido e os preços de muitas commodities estão em alta. Ou seja, em muitos setores ainda será viável exportar volumes e valores maiores.
Noutros casos, a mesma taxa de câmbio que encarece o produto brasileiro no exterior provoca uma redução de custos (nos setores com alta importação de insumos, equipamentos e componentes).
Finalmente, é preciso entender que a opção pela redução no superávit comercial corresponde a uma entrada mais vigorosa de capitais. Trata-se de uma estratégia em que a redução no superávit comercial abre espaço para maiores entradas de capitais, incluída a ampliação do parque produtivo, também em setores exportadores.
Na década de 80, o superávit comercial ajudava o Brasil a pagar suas dívidas. O cenário hoje é outro: o país é solvente, com competitividade crescente e em condições de iniciar uma nova fase de crescimento, com estabilidade. Nesse contexto, o que era um mal pode tornar-se um bem.

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