São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 1994
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Estado-Nação em crise; O mais fino da bossa; Julgamento de Collor; Os mortos-vivos; País de sacoleiros; Ombudsman; Conversa com o travesseiro; Homossexuais; Turismo & Stevenson

Estado-Nação em crise
"Permita-me chamar sua atenção para um procedimento que não apenas atingiu-me pessoalmente como atinge gravemente a credibilidade das notícias publicadas em seu jornal. Por insistência do repórter Fernando de Barros e Silva, concedi-lhe uma entrevista na véspera do início do Seminário de Brasília, do qual fui o coordenador. Nessa entrevista, que foi gravada, afirmei que um dos temas a serem abordados no seminário era o da crise do Estado-Nação, ameaçado, a meu ver, 'por cima' pelos processos de internacionalização das economias e, 'por baixo', por movimentos particularistas ou fragmentadores. Qual não foi minha surpresa quando, no dia seguinte, a Folha publicou a matéria com a seguinte e escandalosa manchete: 'Acabou o Estado nacional, diz tucano' (!). Quando foi por mim questionado, o repórter disse-me que o título não era de sua autoria, mas da Redação, e concordou que de fato não refletia o que estava dito na própria matéria. Quando de minha intervenção no seminário, no mesmo dia dessa publicação (2/12), ao abordar o tema afirmei que, contrariamente ao que 'a mim havia sido atribuído por um jornal mal-informado', o Estado-Nação não é uma instituição terminal, mas está em crise –e expliquei por quê. Pois bem, no dia seguinte (3/12, pág. 1-4), a Folha registra essa intervenção e acrescenta o seguinte parágrafo (que o repórter disse-me não ser de sua autoria, embora inserido em matéria por ele assinada): '(Luciano Martins) aproveitou a ocasião para tentar negar (sic) suas declarações gravadas feitas à Folha'. Se no primeiro caso houve ignorância ou leviandade, já no segundo há evidente má-fé. Para encobrir o primeiro erro, ataca-se a pessoa que fala e mente-se ao leitor. Porque estou seguro que você não aprova procedimentos dessa natureza é que decidi levar o caso a seu conhecimento."
Luciano Martins, sociólogo (São Paulo, SP)

Nota da Redação – Por serem resumos extremamente condensados, os títulos jornalísticos quase nunca comportam filigranas como esta que tanto preocupa o missivista. Para Luciano Martins o conceito de Estado nacional não acabou, mas está em crise. E daí? A imprensa deve melhorar seus títulos, não há dúvida. Mas os intelectuais agora transformados em aprendizes de políticos ajudariam muito se começassem a falar de maneira categórica ou, pelo menos, clara.

O mais fino da bossa
"Morreu o mais fino da bossa, o último dos nobres, a síntese da pureza e da simplicidade. Obrigado Tom Jobim, não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, mas vislumbrei a sua alma através de sua música."
Hélio Braz (São Paulo, SP)

"Muito bonita e ágil a homenagem da Folha ao nosso sempre querido Tom. Lamento, porém, não ter encontrado uma foto sequer de Tom e Vinicius juntos. O próprio compositor e maestro considerava Vinicius 'seu único parceiro' –conforme relata a íntegra da reportagem da Revista da Folha. De qualquer forma, guardarei o caderno e as belíssimas canções do nosso Tom com muito carinho."
Maria Quintino (São Paulo, SP)

"O meu nome sempre foi Antônio Carlos, mas hoje é Brasileiro, Antônio Carlos Brasileiro, como Tom, como um tom necessário para toda canção."
Antônio Carlos dos Santos Filho (São Paulo, SP)

"Nós estamos um pouco mais órfãos. Cartola, Pixinguinha, Noel, Vinicius, o grande poetinha... Foram embora desta republiqueta banana para tomar um bom uísque no Paraíso. Agora, Antonio Carlos, o Brasileiro de verdade, Jobim resolveu se juntar aos amigos. Boa viagem, grande brasileiro, embaixador que nunca saiu do tom."
Wagner D'Ávila (São Paulo, SP)

"Tom, fique com Deus. Agora você poderá olhar pelo Brasil que você tanto ama, pelo Rio, que tanto necessita, por todos nós antonios brasileiros."
Regina Thompson (São Paulo, SP)

Julgamento de Collor
"Será vergonhoso se o ex-presidente Collor for absolvido no julgamento do STF por inépcia do procurador-geral da República. Mais do que nunca o Brasil precisa do esforço do funcionário público, desta vez para garantir a credibilidade de uma decisão judicial, uma vez que o Supremo não pode sozinho proceder uma condenação."
Diogo Coutinho (São Paulo, SP)

"O Brasil todo confia no sr. Aristides Junqueira e no Supremo no julgamento do sr. Fernando Collor e companhia. Não nos decepcionem."
Renato Angelo Basso (Tietê, SP)

Os mortos-vivos
"A minisérie televisiva 'Incidente em Antares' parece inspirar o comportamento de deputados paulistas que perderam as eleições de 3/10. Na ficção, como na realidade, os mortos se recusam a deixar o mundo dos vivos. Pois é revoltante o fato de um grupo de deputados estaduais ter requerido e obtido liminar do STF que, na prática, estica seus mandatos até 15 de março. Isso apesar de a própria Constituição do Estado ter fixado o término no próximo dia 31/12. Afinal, o que querem esses deputados que, pela vontade do povo, não voltarão para a Assembléia?"
Cesar Callegari, deputado estadual eleito pelo PMDB (São Paulo, SP)

País de sacoleiros
"Concordo com o professor Rogério Cézar de Cerqueira Leite. Nossa opção pelo 'modernismo' e pelo consumismo desenfreado, protegendo indústria e comércio alienígenas, resultará certamente em sucateamento, fim da pesquisa e desemprego. Seremos um grande país de sacoleiros."
Celso Aimbiré dos Santos (Campinas, SP)

Ombudsman
"Estou entusiasmado com a campanha gramatical e de precisão da notícia do ombudsman Marcelo Leite. Pela coluna de 27/11, pode-se perceber essa luta. Permita-me tentar confortar o ombudsman mencionando um pensamento chinês. Creio que é de Tao: 'Demonstra sabedoria e estarás espalhando mágoa e ressentimento'."
Luiz Fischer (São José dos Pinhais, PR)

Conversa com o travesseiro
"Sobre a ida de Francisco Weffort para o Ministério da Cultura, há muito assunto para ele conversar com os travesseiros. A quem estaria servindo, caso aceite o convite? Ao presidente Fernado Henrique, um amigo de formação acadêmica semelhante, agora submergido num mar conservador e neoliberal, ou a um casuísmo destinado a coonestar o que há de fisiologismo explícito cercando o novo governo?"
Jairo Veiga (Brasília, DF)

Homossexuais
"Como parte do movimento homossexual organizado, o Grupo Dignidade não poderia deixar de se pronunciar diante das declarações preconceituosas e discriminatórias do sr. Plínio Corrêa de Oliveira, presidente da TFP."
Toni Reis, presidente, e Adriana Wudarski, secretária-geral, do Grupo Dignidade –Conscientização e Emancipação Homossexual (Curitiba, PR)

Turismo & Stevenson
"As pesquisas de Silvio Cioffi, editor do caderno de Turismo, resultaram em um trabalho bastante interessante e rico, tanto em nível cultural como turístico. Realmente nos surpreendeu a reportagem de 8/12 sobre Stevenson. Parabéns pelo belo trabalho."
Pedro Angelini e Suely Ozawa (São Paulo, SP)

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