São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Candelária outra vez

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Passou um ano e meio da chacina da Candelária e quase vai o sobrevivente, do mesmo jeito. Sobrevivente e "principal testemunha na apuração da chacina", como dizia ontem a Globo.
Primeiro, a cobertura lembrou o que disse o rapaz, quando das execuções da Candelária:
– Na época, Wagner contou que foi levado por policiais para o Aterro do Flamengo. Lá, levou dois tiros. E sobreviveu porque se fingiu de morto.
Agora, a segunda parte, com direito ao dobro de tiros:
– Wagner contou que na última sexta-feira foi espancado por sete policiais e atingido por quatro tiros, dois deles nas costas. Ele se fingiu de morto e foi abandonado pelos policiais a duzentos metros de uma delegacia da Polícia Civil.
Pode parecer engraçado, o rapaz ter que se fingir de morto, mais uma vez, para viver. Mas não tem como ser engraçado, quando ele segue internado no hospital "sem proteção policial".
Não que alguém possa afirmar que a polícia é realmente de alguma serventia, no caso de Wagner.
Lamentação
Pode acabar hoje o julgamento de Collor. Ontem na Manchete, já adaptavam o chavão sobre a Justiça, ou avisavam:
– A sentença de um tribunal de justiça não se discute. Mas pode ser que se lamente.
Ainda na Manchete, um registro do descabimento:
– A Elba ainda é usada pelo ex-presidente e pelos empregados da Casa da Dinda.
Mais do que um motivo de lamento, a possível decisão em favor de Collor e PC pode ser um chamamento ao vale-tudo.
Globo correta
A reação do movimento negro às cenas de uma novela calaram fundo na Globo.
Ontem, a rede foi buscar um assunto para preencher a quota do dia, no que parece ser a sua nova e cautelosa estratégia. A "gente de fala forte" –na descrição da cobertura– de um Núcleo de Consciência Negra está processando a União "por prejuízos causados pela escravidão".
Apareceram integrantes do Núcleo, um deles dizendo:
– Quando aparece uma criança negra num livro, ela é órfã, ela é filha da empregada. É sempre uma pessoa à parte.
Levada ao ar na Globo, soa quase como autocrítica.

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