São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 1994
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Jovem é a principal vítima de abuso sexual

ESTANISLAU MARIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 13/12/94

A foto da capa deste caderno saiu com crédito errado. Ela é de autoria de Niels Andreas.
Jovem é principal vítima de abuso sexual
Levantamento feito pelo Centro de Referência da Mulher mostra que 50% dos casos ocorrem dentro de casa
Se você acredita que abuso sexual só acontece com mulheres descuidadas que andam sozinhas à noite e acabam agarradas por um desconhecido mal-encarado em um lugar vazio e escuro, esqueça.
Vizinhos, patrões ou conhecidos são responsáveis por 30% dos casos de abuso sexual. Os dados são de um levantamento realizado pelo Centro de Referência da Saúde da Mulher, de São Paulo.
"Os dados sobre abuso sexual envolvem desde exibição dos órgãos genitais até relações sexuais forçadas – o estupro", diz o médico Jefferson Drezett, coordenador do Serviço de Assistência às Vitimas de Violência Sexual, do Hospital Pérola Byington.
A professora de Flávia (todos os nomes da reportagem são fictícios) notou uma mudança no seu vocabulário e um comportamento agressivo. A menina de 16 anos contou que vinha sendo violentada pelo pai.
Mila, 19, perdeu a auto-estima e diz que vai ser sempre infeliz. Ela faz acompanhamento psicológico: foi molestada pelo pai dos 7 aos 16 anos.
Paula, 16, fez um aborto depois de ser estuprada pelo cunhado. Sofia, 16 (veja depoimento ao lado), amendrontada pelo vizinho, sua mãe a "colocou na parede" e ela confessou: vinha sendo ameaçada e violentada por ele.
Dentro de casa, metade dos abusos são cometidos pelo pai. O restante, pelo padrasto, tio cunhado, avô e até irmão, nessa ordem.
"Agressores desconhecidos correspondem a apenas 20% dos casos", conta a pesquisadora Cristina Koprick Sodré, que analisou mais de 15 mil boletins de ocorrência na 1ª Delegacia da Mulher.
A incidência de abusos sexuais é igual em qualquer classe social garatiram médicos, psicólogos, policiais e juristas consultados.
"É preconceito achar que a violência sexual é predominante nas camadas mais pobres", afirma a psicóloga do CRSM Marina Spinelli.
Depois da violência é comum a ocorrência de pesadelos, angústia e ansiedade. "Me sinto suja. Tenho vergonha das pessoas", conta Júlia, 15, violentada pelo pai.
"Me droguei muito, quase morri", diz ela. A vítima chora sem motivo aparente, tem insônia. A depressão também é comum, às vezes com tentativa de suícidio.
O estresse do trauma é muito grande e a mulher precisa de apoio para evitar sequelas como falta de libido, ausência de orgasmo e até aversão ao sexo.

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