São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 1994
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Royal Shakespeare Company vem ao Brasil

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Royal Shakespeare Company, a mais tradicional companhia teatral britânica, vai se apresentar no Brasil pela primeira vez em 1995. Fundada no século passado, ao longo de sua história revelou talentos como Sir John Gielgud, Vivien Leigh, Sir Laurence Olivier, Ralph Richardson e Dame Peggy Ashcroft.
É o British Council que traz a RSC ao Brasil para uma temporada em quatro cidades. A estréia será em São Paulo, em 20 de março, no Teatro Sérgio Cardoso. Até 9 de abril, o grupo realiza apresentações no Rio de Janeiro (Teatro João Caetano), Belo Horizonte (Palácio das Artes) e Curitiba (Teatro Guaíra).
A peça escolhida é "Henrique 6º - A Batalha pelo Trono", escrita por Shakespeare entre 1589 e 1591 e encenada pela primeira em 1592. Esta produção de "Henrique 6º" estreou em agosto deste ano, com sucesso de crítica. A direção é de Katie Mitchell, 30, considerada um dos novos talentos do teatro inglês. O grupo virá ao Brasil com o ator Jonathan Firth interpretando o papel-título e usará vestuário histórico completo.
A RSC surgiu em 1879, em Stratford-Upon-Avon, cidade onde Shakespeare nasceu. A primeira peça encenada pelo grupo foi "Muito Barulho por Nada" (transformada recentemente em filme por Kenneth Branagh). Na época, a sede da companhia era o Shakespeare Memorial Theatre, destruído por um incêndio em 1926 e reconstruído em 1932.
Sob a direção artística de Peter Hall, o grupo ganhou sede em Londres, em 1960. Foi no ano seguinte que recebeu o nome de Royal Shakespeare Company. O repertório também se expandiu, passando a incluir obras clássicas de outros autores, modernas e experimentais.
Hoje, somente nos teatros de Stratford-Upon-Avon e Londres (o Barbican Theatre), a RSV atrai mais de um milhão de espectadores por ano. Outros milhares comparecem aos espetáculos realizados pelo elenco em excursões pela Inglaterra e outros países.
Formada por uma associação de artistas, a RSC é dirigida desde 1991 por Adrian Noble, que declarou ao jornal "The Times": "Somos um corpo formado por diretores, atores e cenógrafos interessados no teatro clássico. Minha meta é manter a RSC como a melhor companhia de teatro clássico de língua inglesa do mundo".
Katie Mitchell enfoca na montagem de "Henrique 6º" a parte final da obra, originalmente uma trilogia, somada a elementos da segunda parte. Inspirada num rei frágil, que ascendeu ao trono com nove meses de idade e nunca conseguiu impor seu poder, a peça retrata um ambiente de corrupção, desordem, violência, vinganças e ambições pessoais, em um período de guerra civil.
"Através deste espetáculo, quero que as pessoas pensem mais racionalmente sobre as guerras civis que atormentam o mundo hoje", afirma a diretora, referindo-se principalmente à situação da Bósnia e de Ruanda.
No total, 15 atores participam da peça, que conta a história do rei que viveu entre disputas, casou-se com Margaret de Anjou em 1445 e morreu logo após o assassinato de seu único filho, Edward.
Uma das curiosidades da peça é o personagem Richard de Gloucester, que Shakespeare elaborou com cuidado especial: segundo estudiosos, quando escreveu "'Henrique 6º", Shakespeare já pensava em escrever "Ricardo 3º".
Mostrando os dez anos de um reino destruído e arruinado, a versão de "Henrique 6º" por Katie Mitchell foi definida pela crítica inglesa como uma sinfonia interpretada por um grupo de câmara. O texto falado, ainda segundo a imprensa, recria o ritmo dos mais antigos trabalhos de Shakespeare.

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