São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 1994 |
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Royal Shakespeare Company vem ao Brasil
ANA FRANCISCA PONZIO
É o British Council que traz a RSC ao Brasil para uma temporada em quatro cidades. A estréia será em São Paulo, em 20 de março, no Teatro Sérgio Cardoso. Até 9 de abril, o grupo realiza apresentações no Rio de Janeiro (Teatro João Caetano), Belo Horizonte (Palácio das Artes) e Curitiba (Teatro Guaíra). A peça escolhida é "Henrique 6º - A Batalha pelo Trono", escrita por Shakespeare entre 1589 e 1591 e encenada pela primeira em 1592. Esta produção de "Henrique 6º" estreou em agosto deste ano, com sucesso de crítica. A direção é de Katie Mitchell, 30, considerada um dos novos talentos do teatro inglês. O grupo virá ao Brasil com o ator Jonathan Firth interpretando o papel-título e usará vestuário histórico completo. A RSC surgiu em 1879, em Stratford-Upon-Avon, cidade onde Shakespeare nasceu. A primeira peça encenada pelo grupo foi "Muito Barulho por Nada" (transformada recentemente em filme por Kenneth Branagh). Na época, a sede da companhia era o Shakespeare Memorial Theatre, destruído por um incêndio em 1926 e reconstruído em 1932. Sob a direção artística de Peter Hall, o grupo ganhou sede em Londres, em 1960. Foi no ano seguinte que recebeu o nome de Royal Shakespeare Company. O repertório também se expandiu, passando a incluir obras clássicas de outros autores, modernas e experimentais. Hoje, somente nos teatros de Stratford-Upon-Avon e Londres (o Barbican Theatre), a RSV atrai mais de um milhão de espectadores por ano. Outros milhares comparecem aos espetáculos realizados pelo elenco em excursões pela Inglaterra e outros países. Formada por uma associação de artistas, a RSC é dirigida desde 1991 por Adrian Noble, que declarou ao jornal "The Times": "Somos um corpo formado por diretores, atores e cenógrafos interessados no teatro clássico. Minha meta é manter a RSC como a melhor companhia de teatro clássico de língua inglesa do mundo". Katie Mitchell enfoca na montagem de "Henrique 6º" a parte final da obra, originalmente uma trilogia, somada a elementos da segunda parte. Inspirada num rei frágil, que ascendeu ao trono com nove meses de idade e nunca conseguiu impor seu poder, a peça retrata um ambiente de corrupção, desordem, violência, vinganças e ambições pessoais, em um período de guerra civil. "Através deste espetáculo, quero que as pessoas pensem mais racionalmente sobre as guerras civis que atormentam o mundo hoje", afirma a diretora, referindo-se principalmente à situação da Bósnia e de Ruanda. No total, 15 atores participam da peça, que conta a história do rei que viveu entre disputas, casou-se com Margaret de Anjou em 1445 e morreu logo após o assassinato de seu único filho, Edward. Uma das curiosidades da peça é o personagem Richard de Gloucester, que Shakespeare elaborou com cuidado especial: segundo estudiosos, quando escreveu "'Henrique 6º", Shakespeare já pensava em escrever "Ricardo 3º". Mostrando os dez anos de um reino destruído e arruinado, a versão de "Henrique 6º" por Katie Mitchell foi definida pela crítica inglesa como uma sinfonia interpretada por um grupo de câmara. O texto falado, ainda segundo a imprensa, recria o ritmo dos mais antigos trabalhos de Shakespeare. Próximo Texto: Pinça; Quindim; Triangular Índice |
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