São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 1994 |
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Irregularidade é marca de 'Artepensamento'
DANIEL PIZA
Os anteriores foram, na ordem, "Os Sentidos da Paixão" (30 mil exemplares vendidos), "O Olhar" (7.000), "O Desejo" (15 mil), "Ética" (18 mil) e "Tempo e História" (7.000), todos publicados pela mesma editora. O que Novaes faz é reunir intelectuais ligados à academia, na maioria professores de ciências humanas, para debater determinado tema, sem amarrá-los a ele. Com isso, evita certo desvario especulativo que a abrangência do tema poderia induzir. Troca preleções por ensaios –e esse deve ser o motivo do sucesso das conferências e respectivos livros. No caso, sob a marquise temática "Artepensamento", abrigam-se análises das obras de cineastas (Eisenstein, Godard), artistas plásticos (Cézanne, Matisse, Seurat, Delacroix, Ingres, Duchamp, Newman), escritores (Coleridge, Joyce, Dostoievski, Valéry, Michaux) e pensadores (Montesquieu, Rousseau, Kant, Hegel, Adorno, Merleau-Ponty). São 30 textos de intelectuais brasileiros e estrangeiros. Trata-se das transcrições de suas conferências, feitas no Masp (Museu de Arte de São Paulo) e na Funarte (Rio), em fevereiro deste ano. Apesar da multiplicidade de assuntos, há unidade nesses textos: acabam por provar a sugestão contida na grafia do tema, que aglutina as palavras arte e pensamento. Na arte –parecem dizer–, o fluxo do pensamento é inextricável da elaboração da obra. Cada um o prova à sua maneira, naturalmente; há altos e baixos. Alguns ensaios têm passagens que realmente acrescentam ao que se sabe sobre o artista ou pensador. Outros obtêm novas maneiras de expressar uma visão de determinada obra. O restante não traz nada de novo ao fronte crítico. No primeiro grupo, estão os do professor de filosofia da USP Renato Janine Ribeiro sobre Montesquieu, autor de "Cartas Persas" (sobre sua visão limitada do Oriente), o do escritor e ensaísta Décio Pignatari sobre James Joyce, autor de "Ulisses" (quando o confronta com Proust), e o do crítico francês Marcelin Pleynet sobre Henri Matisse (que ataca a visão dele como um pintor antes intuitivo que intelectual). Observe-se que estes três têm experiência de escrever para o grande público, o que transparece em seus textos –e os distingue de boa parte dos outros, em que as palavras parecem ter o peso de um tanque alemão. Textos de alto gabarito intelectual e constante legibilidade são também os dos professores de literatura Willi Bolle (sobre os "tableaux", crônicas urbanas, de Walter Benjamin), Boris Schnaiderman (sobre Dostoievski pensador) e Arthur Nestrovski (sobre o poeta romântico Coleridge e a consciência do texto) e o do professor de história da música Lorenzo Mamm (sobre Santo Agostinho e a música sacra). Para o leitor universitário, fique claro que não se trata de um livro irregular: a competência o trespassa. Ele é, no conjunto, riquíssimo em informações e reflexões; e lê-lo, diga-se, mais produtivo e bem menos penoso do que assistir às conferências. Livro: Artepensamento Organizador: Adauto Novaes Páginas: 495 Quanto: R$ 31 Lançamento: hoje, às 19h Onde: Museu da Imagem e do Som (av. Europa, 158, tel. 011/853-1498, Jardins, zona sul de São Paulo) Texto Anterior: A dignidade está nos detalhes Próximo Texto: Jessye Norman se comove e aplaude platéia Índice |
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