São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 1994
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Dúvidas e otimismo marcam fim da cúpula

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

A Cúpula das Américas foi encerrada ontem em Miami com grandes demonstrações de otimismo dos líderes de 34 dos 35 países do hemisfério mas muitas dúvidas sobre a possibilidade de se concretizar suas decisões.
A principal delas, a criação da Área de Livre Comércio das Américas, com a nova sigla FTAA no lugar de Afta (a mudança foi sugerida pelo Brasil para evitar a lembrança da doença bucal).
Embora o presidente Bill Clinton tenha anunciado que os trabalhos para sua materialização começam em janeiro e que há um prazo até 2005 para as negociações terminarem, muitos acreditam que levará mais tempo para se ter de fato esse organismo em operação.
As dificuldades se concentram nos EUA. Clinton teve problemas para conseguir fazer passar pelo Congresso o Acordo Norte-Americano e o Acordo Mundial de Comércio nos últimos dois anos.
Seu prestígio político está em baixa e quem anda crescendo em popularidade são as lideranças conservadoras e isolacionistas.
Clinton argumenta que os acordos de livre comércio beneficiam os EUA por criarem empregos (20 mil para cada US$ 1 bilhão de exportações, diz ele). Mas boa parte do público e do Congresso não acredita nisso.
O outro tema que despertou a atenção geral na cúpula, a situação de Cuba, acabou não sendo mencionado no documento final.
O presidente da Argentina, Carlos Menem, levantou o assunto, mas o Brasil e México responderam em defesa do princípio de autodeterminação e não intervenção.
Com isso, Menem manteve alto o seu prestígio junto à comunidade de cubanos no exílio e não se comprometeu com os outros chefes de Estado e de governo.
A cerimônia de encerramento ocorreu sem incidentes. A única surpresa, que provocou desagrado entre diplomatas da América Latina, foi o convite que o presidente Clinton fez a Jean-Bertrand Aristide para falar sobre o Haiti.
O discurso de Aristide foi o único a tratar de uma questão nacional específica na cerimônia final. O objetivo, evidente, era angariar aplausos à ocupação militar do Haiti pelos Estados Unidos.
Nos últimos três dias, o trânsito em Miami ficou infernal, com 34 caravanas cortando as ruas centrais com tráfego bloqueado por horas.
Além disso, o sistema de telefonia celular local entrou em colapso. Apenas duas prisões foram feitas nos três dias de conferência, entre elas a de um homem armado (legalmente) no mesmo andar de um hotel onde um dos presidentes estava hospedado.

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Sobre a cúpula à pág. 1-6.

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